Pedro do Coutto
O jornalista Ruy Castro, revelador e tradutor do passado para o presente, como eu o classifico, numa conversa na última semana, tocou no assunto que passou a interessá-lo; a participação dos correspondentes de guerra brasileiros nos campos da Itália, na Segunda Guerra Mundial, enfrentando o nazismo de Hitler e o fascismo de Mussolini.
O tema correspondentes de guerra ganha uma importância atual muito forte, fortíssima mesmo, diante do que se passa na Ucrânia, terrivelmente invadida pelas forças russas de Vladimir Putin. Ontem mesmo, como a GloboNews informou, o jornalista do canal Fox News perdeu a perna e um dos olhos num ataque russo nas proximidades de Kiev.
RISCOS EXTREMOS – Os exemplos de extremo risco dos correspondentes de guerra são múltiplos. Não terminam no caso da Ucrânia. Começaram na Primeira Guerra Mundial quando a informação começou a se organizar no sentido de que o jornalismo, inclusive fotográfico e cinematográfico, junto com as narrativas, levasse os fatos para a população de modo geral.
A memória dos conflitos passou assim a se incorporar ao processo de conhecimento coletivo e narrativas desapaixonadas na medida do possível, focalizando os conflitos que começavam e terminavam no derramamento de sangue.
Depois da conversa com Ruy Castro, consultei o jovem historiador Daniel Mata Roque, um pesquisador excepcional a quem devemos uma série de obras extremamente importantes que não se esgotam quanto à luta no teatro da guerra, mas também se estendem às origens da Força Expedicionária Brasileira.
CONTROVÉRSIAS – Havia controvérsias que envolviam o governo Vargas quanto ao seu posicionamento, mas que desapareceram quando, em dezembro de 1941, o Japão atacou Pearl Harbour. Os correspondentes de guerra brasileiros, informa Daniel Mata Roque, formavam um grupo de 10 a 12 pessoas.
Os riscos dos jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas é enorme. Verificamos pelas imagens exibidas pela televisão que os profissionais se aproximam perigosamente dos combates e correm sempre o risco de serem atingidos por eles de uma forma ou de outra, de um tiro disparado por um lado ou por outro. Além de estarem expostos à livres atiradores que se posicionam no ataque humano.
Filmes e cenas da Segunda Guerra Mundial não faltam. Basta acessar a Netflix e teremos diante de nossos olhos uma sequência de reportagens dramáticas. É preciso escrever-se um capítulo impressionista e impressionante sobre a participação, na grande maioria dos casos silenciosa, dos repórteres que escrevem a história e dos fotógrafos e cinegrafistas que as registram.
CINISMO – Os registros da Ucrânia são fortíssimos para mostrar a crueldade da invasão russa, cujo governo cinicamente se diz agredido pelo governo Zelensky, acentuando que massacres de civis teriam sido praticados pelo próprio governo de Kiev para culpar Moscou pelas atrocidades. Um absurdo que figura entre os maiores da história universal.
Assim, ao se escrever sobre as guerras, devemos abrir um espaço bastante longo sobre o papel heroico e essencial desempenhado pelos correspondentes nas áreas de conflito. Não tem havido, desde o final da Segunda Guerra, um só dia em que não se registrem conflitos de sangue e de selvageria. Uma pena.