Do G1
O serralheiro Everaldo Melo Ramos Silva, de 62 anos, pai de homem agredido pelo deputado estadual Romero Albuquerque (União Brasil), na sexta (25), no Recife, afirmou que o político quis se promover e pediu que ele seja punido. “Ele acha que é blindado por ser deputado estadual”, afirmou. O parlamentar publicou nas redes sociais o vídeo em que bate no rosto do homem.
A agressão ocorreu durante uma ação com equipes da Polícia Civil e da Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais do Recife (Seda). O filho de Everaldo, que tem 31 anos, foi preso em flagrante, após ser denunciado por maus-tratos a um cão. A audiência de custódia do rapaz estava marcada para este sábado (26). O nome do homem não foi divulgado a pedido de Everaldo, que chamou a agressão praticada pelo deputado de “inadmissível” .
“O meu filho errou, não nego. Mas ele quis fazer do meu filho uma marionete e usar ele para se promover, porque as eleições estão chegando. Quero saber o que vai acontecer por ele agredir meu filho”, questionou o serralheiro. Segundo Everaldo, o filho já havia sido detido e os policiais estavam por perto quando ocorreu a agressão.
Na sequência de imagens publicadas pelo deputado, é possível ver o homem sendo algemado por um policial, logo após a agressão. No momento em que o parlamentar dá o murro, um homem com colete da Seda também aparece no vídeo, ao lado dele. Na mesma postagem, Romero Albuquerque diz ao dono do cão: “Olha para mim. Por que tu não bate em mim? Eu não sou do teu tamanho?”.
Em seguida, ele diz um palavrão e bate no rosto do rapaz, que está com as mãos para trás do corpo e encostado em um carro. No fim da postagem, o deputado pede “cadeia para os maus-tratos” contra os animais.
Everaldo disse que presenciou a prisão do filho e também a agressão. Contou que as pessoas que estavam com o deputado estadual afirmaram que ele era delegado. Quem estava por perto não fez nada.
“Os policiais disseram que não viram, mas eles se omitiram. Estavam muito perto e a viatura também. Eles disseram que não viram, mas viram”, afirmou.
O homem, que mora em uma comunidade no bairro do Cordeiro, na Zone Oeste do Recife, disse que o filho não tem antecedentes criminais e que sempre trabalhou com ele.
“Meu filho tem uma cadela mestiça. Ela se soltou. Ele se estressou e deu umas lapadas nela. Teve uma vizinha que filmou e deve ter passado pra ele ( o deputado). Mas ele (deputado) usou meu filho como se fosse uma pessoa que detestasse animal, o que não é verdade”, afirmou.
O serralheiro contou que não conseguiu dormir após a prisão do filho e que precisou arranjar dinheiro, mesmo sem condições, para pagar um advogado.
“Sou uma pessoa de caráter, honesta. Aqui, todo mundo gosta de mim. E ele sempre trabalhou comigo, é casado, tem duas filhas, tem ficha limpa, não tem problema nenhum. Eu procuro orientar meu filho, educar, mesmo ele sendo mais velho”, disse.
A reportagem entrou em contato com o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) para saber o resultado da audiência de custódia, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Outro lado
Na sexta-feira (25), Romero Albuquerque conversou com a redação por telefone e justificou a agressão ao homem, dizendo que “o sangue subiu para a cabeça diante dos maus-tratos ao animal”.
O deputado escreveu nas redes sociais: “Não me controlei na hora da raiva, mas eu pergunto: se fosse com uma filha sua, você chegaria abraçando um covarde desse? Fomos pra cima, sem arrependimento”.
Romero Albuquerque afirmou que foi ameaçado pelo dono do cão e que a vizinha que fez o vídeo dele agredindo o cachorro foi intimidada.
“Cheguei ao local e ele se escondeu. Voltei com a polícia e soube que ele disse que ficou dizendo que me mataria de aparecesse lá”, afirmou.
Sobre as possíveis penalidades, o parlamentar disse que não tem receio de ser alvo de investigação da polícia por causa da agressão.
“O mal não se combate com o mal. Essa minha postura não era o que eu queria passar para a sociedade”, afirmou.
Apesar da declaração do serralheiro e dos vídeos publicados pelo deputado mostrando policiais e integrantes da Seda, a Polícia Civil enviou uma nota, neste sábado (26), afirmando que os policiais não estavam presentes na ocorrência no momento em que o homem acusado de maus-tratos foi agredido pelo parlamentar.
“Isso ficou claro após todas as partes serem ouvidas. No momento da agressão, as pessoas que estão ao lado do deputado e da vítima são amigos do deputado que contiveram e ataram as mãos do homem, conforme o próprio deputado afirmou à delegada do caso”, diz, na nota.
Na sexta (25), no entanto, a Polícia Civil informou que instaurou inquérito para apurar a agressão exibida em vídeo e imputada a um deputado estadual e disse que a presidência da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) será comunicada sobre os fatos.
No comunicado, a polícia disse, ainda, que os deputados estaduais só podem ser presos em flagrante por crime inafiançável, segundo o parágrafo 1° do artigo 8° da Constituição de Pernambuco.
Na esfera disciplinar, a Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) abriu Investigação Preliminar (IP) para apurar as circunstâncias da ação policial.
A SDS disse, por nota, que a Corregedoria-Geral tomou conhecimento do fato e instaurou Investigação Preliminar para apurar, na esfera disciplinar, as circunstâncias da prisão e a atuação de policiais na ocorrência.
A reportagem também entrou em contato a Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais (Seda), já que integrante da Seda aparecem nas imagens, inclusive no momento da agressão.
Por meio de nota, a Prefeitura do Recife disse que “não compactua com qualquer tipo de violência” e informou que “vai afastar os servidores da Seda identificados no vídeo até o esclarecimento dos fatos para tomar as medidas administrativas cabíveis que o assunto exige”.