Taísa Medeiros e Fabio Grecchi
Correio Braziliense
Quando a janela partidária se fechar em 1º de abril — depois de ter sido aberta no último dia 3 —, o eleitor terá um quadro um pouco mais claro de como as legendas estarão articuladas para as eleições de outubro. Nem tudo estará ajustado, pois ainda estará sendo jogado o xadrez das federações, cujo prazo foi estendido pelo Tribunal Superior Eleitoral até 31 de maio.
Porém, já haverá um afunilamento. Isso porque, a legislação eleitoral determina que até 2 de abril aqueles que pretendem disputar o pleito devem deixar o cargo que ocupam, seis meses antes das eleições.
FORTES EMOÇÕES – A união desses fatores promete fortes emoções, com cenas de jogo de cintura, pressões, reclamações, traições e muito cálculo político. Um dos protagonistas dessas movimentações é o PL do presidente Jair Bolsonaro: fontes da legenda estimam que a bancada no Congresso, hoje com 42 deputados e seis senadores, possa chegar, na Câmara, a 70 integrantes.
“Só do PSL sairão mais de 25. Seremos o maior partido brasileiro”, prevê, otimista, o deputado federal Bibo Nunes (RS), vice-líder da legenda na Casa.
Para reforçar o PL, há a possibilidade de que 11 ministros deixem os cargos até o dia 2 para prepararem as campanhas legislativas. Pelo menos dois confirmaram a escolha do partido como destino: o titular do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, que tentará uma cadeira de deputado federal por São Paulo, e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que está sendo empurrado por Bolsonaro para a disputa do governo paulista.
ALGUNS PROBLEMAS – O cientista político Vitor Oliveira, sócio da Pulso Público, lembra que o PL tem alguns problemas. “É o partido de um candidato à Presidência, ou seja, tem que comprometer recursos com isso. Sobra menos dinheiro para a campanha dos deputados. Para alguns parlamentares, porém, é confortável estar no PL, porque é um partido que permite várias opções”, avalia.
Outro partido que também está no olho do furacão da janela partidária é o PSD. Isso porque o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS) surge como possível substituto do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na corrida presidencial. Caso realmente acerte o ingresso na legenda de Gilberto Kassab, tem tudo para reforçá-la com parlamentares tucanos em busca de um novo ninho em que possam ter mais chances de se eleger.
O cientista político Valdir Pucci, porém, crê que Leite permanecerá no PSDB. “Ele tem uma história dentro do partido, concorreu às prévias presidenciais e a saída enfraqueceria o partido. Ele entenderá que será melhor concorrer à reeleição”, acredita.
TROCA-TROCA – Nos bastidores do PSDB, o cálculo é que 10 parlamentares aproveitarão a janela partidária — e devem correr na direção de legendas que compõem o Centrão devido ao apoio que dão ao governo.
No União Brasil, nascido da fusão do PSL e do DEM, se prevê uma diáspora de deputados e senadores, todos de alguma forma ligados a Bolsonaro. O caminho preferencial é a troca por PL, PP e PTB, legendas que compõem o Centrão, que sustenta o governo na Câmara.
As coisas devem se agitar também no Podemos, que irá com Sergio Moro ao Palácio do Planalto. Pelo menos dois deputados, Diego Garcia (PR) e José Medeiros (MT), aliados de Bolsonaro, devem deixar a legenda por incompatibilidade com o ex-juiz da Operação Lava-Jato.
UNIÃO POR LULA – Na esquerda, as movimentações são menos estrondosas. Segundo fontes de PT, PSB, PSol, PDT, PV e Rede, o foco tem sido mais na formação da federação partidária — um complicador, pois poucas são as legendas menores dispostas a ficarem atreladas às maiores até 2024, sendo que há uma disputa municipal no meio em que cidades-chaves são disputadas.
Para Vitor Oliveira, é necessário observar os diferentes impactos que esse período de trocas provocará nas legendas. “A janela é uma tábua de salvação para alguns parlamentares que não querem pagar para ver. No campo da direita, é muito mais uma questão de abrir espaço para candidaturas nos estados, nos municípios e obter recursos eleitorais. Na esquerda, é sobrevivência: nos partidos pequenos, quem sobrou é quem acredita no partido. A federação acaba sendo mais importante”, explica.