Pedro do Coutto
Na manhã de ontem, quarta-feira, a GloboNews transmitiu o embarque da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, à Polônia como representante do presidente Joe Biden para alguma decisão política extremamente importante seja qual for o resultado da viagem.
A presença de Kamala Harris em Varsóvia está na sequência de um pronunciamento do presidente Putin de que se a Polônia der base à decolagem de aviões para a guerra contra a Ucrânia, tal atitude equivalerá a uma declaração de guerra. Ao mesmo tempo, o presidente Zelensky voltou a afirmar que a Ucrânia não vai se render a Putin e continuará combatendo heroicamente como vem fazendo até este momento.
APOIO AMERICANO – Zelensky aguardava o assentimento do governo de Varsóvia a respeito da chegada de aviões fornecidos por países do Ocidente para combater a invasão russa. A presença de Kamala Harris só pode significar um apoio americano à liberação do espaço para aeronaves que se destinem a socorrer a Ucrânia.
Caso contrário, a viagem seria desempenhada pela Secretaria de Estado ou pela Chancelaria de Washington. A presença de Kamala acrescenta densidade à atmosfera que envolve uma decisão que pode se tornar dramática.
Ao mesmo tempo, Zelensky reduz as críticas à Otan e se mostra disposto a discutir o regime especial para as duas regiões no sul do país que se declararam separatistas do governo de Kiev. O mundo novamente, a exemplo da crise dos mísseis russos em 1962 em Havana, está com a sua integridade sob ameaça.
PERSPECTIVA – A posição de Zelensky em relação às regiões separatistas acompanhadas por uma redução de críticas à Otan é um claro sinal de que ele ainda também joga numa perspectiva de acordo.
O Exército russo, conforme já escrevi, é quatro vezes maior do que o da Ucrânia. Mas é preciso lembrar que a Ucrânia está em seu solo e que a totalidade do Exército russo não pode se deslocar para apoiar a invasão.
DECLARAÇÃO INFELIZ – Ao comemorar numa reunião do Ministério Público Federal em Brasília a passagem de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou textualmente que a mulher ganhou a liberdade de escolher a cor para pintar suas unhas. Desastre absoluto através do qual ele próprio se desmoralizou.
Aras com isso prejudicou a candidatura de Jair Bolsonaro, uma vez que ele é aliado do presidente da República e tem demonstrado essa condição nas intervenções que tem protagonizado na PGR. A rejeição do eleitorado feminino a Bolsonaro, em decorrência da fala de Aras, pode crescer ainda mais. Augusto Aras comprometeu a face política do governo a que pensou em servir ao “comemorar” a data desta terça-feira.
ABSORVENTES – O presidente Bolsonaro assinou decreto – reportagem de Daniel Gullino, O Globo de quarta-feira, estabelecendo a distribuição gratuita de absorventes para mulheres carentes, de 12 a 24 anos de idade, mas que estejam inscritas em programas sociais do governo. O ministro Marcelo Queiroga calculou a despesa em R$ 130 milhões, recursos que seriam procedentes das verbas orçamentárias consignadas ao próprio Ministério da Saúde.
Lembro de aspectos indispensáveis; a questão da distribuição e o caráter mensal permanente dos absorventes. Isso porque a menstruação ocorre uma vez por mês e assim o programa tem sua distribuição iniciada, mas não tem fim possível na legislação e na inclusão dos recursos no orçamento da União.
DESPESA PERMANENTE – Trata-se de uma despesa permanente, absolutamente justa, sem dúvida. Mas é preciso que seja focalizada pelo próprio ministro da Saúde, que ao anunciar os recursos a serem publicados deve ter se baseado no espaço que começa e termina este ano.
O ciclo, porém, como assinalei há pouco, não tem fim, pois não tem fim o ciclo das gerações femininas que se sucedem através do tempo.
MORO – Recebo a sugestão do meu amigo Bernardo Azeredo Grunewald, filho do meu saudoso amigo José Lino Grunewald, e da minha amiga Ercila Grunewald. O livro de Sergio Moro é importante, sobretudo na medida em que ilumina o triângulo formado por setores políticos, empresariais e da administração pública que tornaram desde a reeleição de Fernando Henrique Cardoso a corrupção no Brasil como uma pandemia.
Pode-se afirmar que nas três últimas décadas não existe nenhuma obra contratada por uma empresa estatal, nenhum fornecimento de insumos e de material de consumo pelas administrações públicas que não sejam marcadas pelo dedo da comissão por fora cujos personagens enriquecem sob o sol de inverno da impunidade.
Uma qualidade de Sergio Moro foi ter mostrado que combater a corrupção é possível, deixando claro que pela primeira vez na história do país, ladrões de casaca foram presos. Essa atuação se distingue do seu erro em aceitar ser ministro da Justiça e da Segurança Pública do governo Bolsonaro. Esse erro de Moro custou parte substancial de sua popularidade.