Mathias Erdtmann
O potássio vem aparecendo bastante nas notícias ultimamente, graças à dependência do Brasil das importações do componente fertilizante, tendo como origem a Rússia ou seus países satélites. Esse importante mineral fertilizante é utilizado na forma de um tipo de sal, o cloreto de potássio (KCL), presente principalmente em rochas chamadas carnalita e silvinita. Outros sais famosos também são bastante comuns na forma de rocha, como a halita (sal de cozinha).
Pode parecer mera coincidência o fato da Rússia ser grande exportadora de petróleo (e gás natural) e de fósforo, mas a verdade é que a história do hidrocarboneto e dos sais se entrelaça de maneira única.
POÇOS DE SAL – Em 1835, os chineses já perfuravam poços de até 1000m de profundidade com alvo na halita, onde injetavam água quente, que voltava em salmora concentrada, e assim seguia para a produção de sal, que tinha grande valor na época.
Alguns anos depois, em 1859, nos Estados Unidos, o coronel Drake (que não era coronel, foi só uma fake news produzida pelo Drake para ter apoio local) pensou em usar o método chinês para furar poços e extrair outra substância: o petróleo, até então só recolhido manualmente em exudações naturais (nos pouquíssimos lugares em que a substância emergia na terra sozinha, se empapava um pano na meleca negra para torcê-lo no barril).
Um tempo depois, o alemão Winters fundou, em 1894, uma empresa para repetir o feito chinês na Alemanha: iria furar poços com alvo na halita (hall em alemão) e produzir o importante e aparentemente valioso sal. E denominou a empresa de Wintershall (“Halita do Winters”, em tradução direta).
ENCONTROU PETRÓLEO – Contrariando seus planos, encontrou mais petróleo do que sal. Abandonou o sal em favor do mais precioso e lucrativo líquido. Entregou a exploração de sal para outros, e a Wintershall se tornou a maior petroleira alemã.
Fato é que, na exploração de petróleo, acaba se atravessando rochas salinas (halitas, silvinitas, carnalitas,etc). Essas acumulações de sal nada mais são que lagos e mares que morreram naturalmente (como a Lagoa Feia no Rio de Janeiro ou o Mar Morto), deixando espessas camadas de sal que foram posteriormente recobertas de sedimento.
Um dos maiores mares que já morreu ficava entre o Brasil e África, no período Cretáceo (último período da era dos dinossauros), responsável pela acumulação da camada que chega a 2 km de espessura/sal, que atualmente está sobre a camada Pré-sal, grande produtora de petróleo no Brasil.
RIQUEZA RUSSA – Por isso que a Rússia tem tanto óleo quanto gás e potássio (e outros minerais importantes). O potássio é encontrado na carnalita (menor teor) e silvinita (maior teor) e sua produção por meio de poços é eficiente (quando comparada com a mineração à céu aberto) por conta da incrível solubilidade do cloreto de potássio.
Se você preencher meio copo com cloreto de potássio em forma de sal (100 g), e em seguida encher o copo de água, todo o sal será dissolvido (diferente do sal de cozinha, que ficará um bocado no fundo).
No entanto, se for fazer essa experiência em casa, tome muito cuidado e jogue fora o líquido antes que ocorram acidentes: um gole deste copo é fatal. 5 g de cloreto de potássio, se ingeridos, provocam parada cardíaca – tanto que a substância é usada nas injeções letais nas penas de morte dos EUA.
CARÊNCIAS DO BRASIL – No Brasil, temos abundância de muitos materiais, mas em alguns pontos a mãe natureza quis que a gente seguisse o caminho mais difícil: temos pouquíssimo carvão, por exemplo. Há petróleo em grande quantidade, mas somente em águas profundas, e levamos décadas para nos tornarmos mestres em sua produção.
A mesma realidade se repete para a carnalita e a silvinita. No Brasil, esses importantes elementos são mais raros que o de costume. Por outro lado, seguindo o costume, foram descobertos em Sergipe e Amazonas, durante a prospecção de petróleo. Para dificultar um pouco mais, precisamos de uma quantidade anormal deste fertilizante, pois ele é escasso no solo das grandes plantações de soja.
Devido ao preço tradicionalmente baixo cobrado pelos balcãs, ausência de fomento, e raridade relativa do material, a produção nacional se concentra em Sergipe e nunca decolou. Atualmente cobre algo como 15% do consumo.