Charge do Tiago Recchia (Arquivo Google)

Carlos Newton – TRIBUNA DA INTERNET

As pesquisas eleitorais nos incomodam, porque parecem iguais e os resultados coincidem, como se uma imitando a outra. São feitas por telefone, nada confiáveis. Afinal, quem tem tempo e paciência para ficar respondendo a um caminhão de perguntas por telefone? Os resultados acabam sendo constrangedores; em alguns casos, chegam a ser ridículos.

Nesta sexta-feira (11/2), por exemplo, foi divulgada a nova pesquisa XP/Inesp, e os portais da imprensa alardearam que o ex-presidente Lula da Silva  lidera isolado a corrida eleitoral, com 43% das intenções de voto. Em segundo lugar está o presidente Jair Bolsonaro, com 25%.

OUTROS CANDIDATOS – Os presidenciáveis Ciro Gomes e o ex-juiz Sergio Moro estão empatados em terceiro lugar, cada um com 8%. A seguir, João Doria  tem 3%, André Janones e Simone Tebet (MDB) marcaram 1% cada e Rodrigo Pacheco (PSD), Alessandro Vieira (Cidadania) e Luiz Felipe D’Ávila (Novo) não pontuaram.

Até aí morreu o Neves, como se dizia nos bons tempos. Já explicamos aqui na Tribuna que toda pesquisa requer tradução simultânea. E esse curioso levantamento do Instituto Inesp, patrocinado pela corretora XP, não foge à regra.

Portanto, como não se trata de jogo de futebol, a imprensa deveria ser mais atenta e menos torcedora, dando valor à pergunta realmente fundamental, que os institutos chamam de “pesquisa espontânea”, quesito que precisa ser o primeiro na entrevista, perguntando-se singelamente: “Se a eleição fosse hoje, em quem você votaria?”.

RESULTADO PERTURBADOR – No caso da pesquisa XP/Inesp, o resultado da pesquisa espontânea indagação foi perturbador e inquietante. Neste quesito, Lula teve apenas 36%; Bolsonaro ficou com 24%; Moro e Ciro, 4% cada; e Doria, 1%, e os demais nem pontuaram. Brancos, nulos, indecisos ou nenhum deles chegaram a 30%,

Como o responsável pela pesquisa Inesp é meio distraído, a soma total a que ele chegou só dá 99%, ou seja, ficou faltando 1% dos eleitores, que se evadiram pela janela, vejam a que ponto  chegamos.

O mais interessante na tradução da pesquisa veio a seguir. Confrontando-se as duas pesquisas – espontânea e estimulada –, constata-se que o levantamento não pode ter a menor credibilidade.  Entre uma e outra versão, Lula subiu de 36% para 43%, Moro e Ciro dobraram suas votações, de 4% para 8%, enquanto o presidente Bolsonaro subiu apenas um pontinho, de 24% para 25%. “Isso non ecziste”, diria Padre Quevedo. Realmente. A eleição se aproxima, todos sobem muito, somente um fica estacionado, só pode ser um milagre ao contrário!

SÃO RIDÍCULAS – É por isso que não se pode acreditar nessas pesquisas, que chegam a ser ridículas. É preciso filtrá-las, até conseguir encontrar alguma coisa que preste. Nesta pesquisa XP/Inesp, o melhor quesito foi “Interesse pela Eleição Presidencial”, cujo resultado também é surpreendente, uma espécie de Piada do Ano.

Imaginem que 52% declararam ter “muito interesse”; 18%, nenhum interesse, 16%; “algum interesse”, 14; e “não respondeu”, 1%. Somando-se as percentagens, chegamos a 101%, um resultado estatístico interessante, instigante e inquietante. Talvez aquele 1% evadido da pesquisa espontânea tenha vindo parar aqui.

Mas o fato a se destacar é 49% dos eleitores ainda não estão focados, porque dizer que tem “algum interesse” na eleição, em português claro, com toda certeza significa que ainda nem está interessado… Ou seja, somando-se aquele 1% que distraidamente “não respondeu”, temos 49% dos eleitores que ainda não se interessaram pela sucessão. Mesmo assim, os jornais não analisam as pesquisas, apenas a repetem, fazendo um esforço desumano para alardear que Lula já ganhou – e no primeiro turno!

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P.S. – A conclusão é cartesiana: não se assuste nem se iluda com as pesquisas. Escolha o candidato que julgar mais preparado e mais confiável. Isso demonstrará que você tem interesse na eleição. Mas se você acredita nessas pesquisas, desculpe, amigo, não posso perder tempo com você, no momento estou muito ocupado. Como ensina Adélia Prado, em seu poema “A Criatura”, “Não tenho mais tempo algum, ser feliz me consome”. (C.N.)