Agora presidida por Lourival Holanda, entidade de 121 anos continua realizando cursos, discussões e está aberta para visitações, mas ainda busca maior proximidade com novos escritores e leitores
Terceira casa literária mais antiga do Brasil, a Academia Pernambucana de Letras ganha nova diretoria durante solenidade de posse aberta ao público nesta quarta-feira (26), a partir das 19h, na sede localizada nas Graças, Zona Norte do Recife – seguindo protocolos sanitários em vigência no Estado. Os novos nomes foram eleitos em novembro do ano passado, mas o evento só ocorrerá agora por conta da pandemia. A ocasião também celebra os 121 anos da entidade, que passou quase dois anos paralisada nesse contexto.
O novo presidente da APL é o acadêmico Lourival Holanda, ocupante da cadeira número 4. Natural de Bodocó, no Sertão do Araripe, ele é professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e autor de livros como “Fato e Fábula” (1999), “Sob o Signo do Silêncio” (1992) e “Realidade Inominada” (2019). Ainda tomam posse outros seis integrantes de diretoria, conselho fiscal e acadêmicos responsáveis pela biblioteca e publicações. Eles foram eleitos para o biênio que vai até janeiro de 2024.
Desafios da nova diretoria
Fundada por Carneiro Vilela em 26 de janeiro de 1901, a APL surgiu com o objetivo de discutir e cultivar a língua portuguesa e a literatura produzida no Estado. Em 2022, os desafios são os mesmos dos últimos anos: a diretoria quer manter a instituição histórica próxima da sociedade, dos novos escritores e leitores, dos jovens e das novas dinâmicas do mundo da comunicação – que afetaram bastante o próprio hábito de leitura e o consumo de livros.
Lourival Holanda aponta que a Academia atravessou um período de “marasmo muito grande” em frente à pandemia, e agora retorna com uma ideia de renovação. “Primeiramente, é preciso ficar claro que trabalhamos com a linguagem, para além da literatura. A Academia se interessa por cinema, história, sociologia e demais práticas sociais que fazem fronteiras com a linguagem”, diz o novo presidente, sucessor do escritor, ensaísta e tradutor Lucilo Varejão.
“Também é preciso devolver a Academia à sociedade de um modo mais prático, mais intenso. A APL é um patrimônio, um inventário, sendo um convite também à invenção, a todos que estão escrevendo. Nas redes sociais, por exemplo, nunca se escreveu tanto. A internet poderia matar a literatura, mas, pelo contrário, a literatura continua fundamental para a nossa sociedade. Ela fabrica uma linguagem que a sociedade tem de si mesma”, continua.
A diretoria ainda é composta por Luzilá Gonçalves (1º vice-presidente), José Mário Rodrigues (2º vice-presidente), Cícero Belmar (secretário geral), Dirceu Rabelo (1º secretário), Lourdes Sarmento (2º secretário), Anna Maria de Lyra César (tesoureiro). Margarida Cantareli, que foi presidente por dois biênios na década passada, assume os serviços da biblioteca. Silvio Neves Baptista ficará com serviços do Arquivo, enquanto Marly Mota assume serviços de publicação.
Diálogo com novas gerações
Para manter o diálogo aberto para novidades e novas gerações, concursos devem ser anunciados no decorrer do ano para movimentar a cena literária. “Nós já temos alguns encontros, onde convidamos esse pessoal mais jovem. Temos cursos, como um sobre literatura e quadrinhos, exposições e música”, continua Holanda.
“Para mim, é fundamental ter a juventude ao lado, pois a Academia não pode parecer um museu. A ideia é fazer novos concursos e outras formas para abordar todo o pessoal que produz literatura. Não se afastando do espaço virtual, da visibilidade midiática, lidando com uma rede de comunicação, uma rede de transformação”.
Discussões
Também serão retomadas as reuniões ordinárias que ocorrem quinzenalmente e trazem sempre palestras ou conferências ministradas por acadêmicos ou convidados sobre temas relacionados às diversas expressões da arte e cultura. Esses encontros são abertos ao público. Nesse primeiro biênio de 2022, por exemplo, devem ser realizadas discussões acerca de efemérides importantes para a cultura, como o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e os 200 anos da Independência do Brasil.
“A Academia é uma sociedade de literatura, de cultura e também de debates contemporâneos em torno dessa cultura. É saudável que seja assim, com posicionamento, incentivo à produção, de igual para igual, com visão heterogênea”, continua Lourival. “Também é preciso existir uma valorização do legado que temos do passado, que deve ser celebrado, transmitido, passado adiante. Acreditamos que a literatura seja de fato fundamental para a sociedade. Ela nos dá uma imagem. Uma sociedade sem literatura seria uma sociedade sem sonho”.
Espaço poderia ser mais visitado
Além das reuniões ordinárias e demais eventos do calendário, a Academia Pernambucana de Letras está aberta para visitação. A sua sede é um casarão solar construído no século 19 para ser residência de um comerciante português. O espaço é composto pela Biblioteca Waldemar Lopes, o Auditório Mauro Mota, o Espaço Frei Caneca, o Salão Nobre e uma passarela-jardim.
A biblioteca também está aberta ao público. É possível consultar um acervo da obra literária pernambucana e internacional com cerca de 30 mil títulos. A visitação funciona por agendamento, de terça a sexta-feira, das 10h às 16h e as marcações podem ser feitas pelo telefone (81) 3268-2211, no mesmo horário.