Gustavo Schmitt
O Globo
Após vencer as prévias num processo marcado por uma guerra interna, o governador de São Paulo, João Doria, tem sido aconselhado a unir o partido e evitar a disputa da presidência do PSDB, em maio. Uma das possibilidades sob avaliação nos bastidores é a prorrogação do mandato do presidente nacional, Bruno Araújo, além de todos os chefes de diretórios municipais e estaduais.
A ideia seria evitar um novo racha que pudesse refletir na candidatura de Doria, já que ele está focado em agendas positivas e aposta na redução de sua rejeição e na melhora da avaliação de seu governo em São Paulo. Uma reunião da executiva nacional do partido deve discutir o assunto na quinta-feira da semana que vem, quando será feita uma avaliação da situação da sigla nas disputas estaduais.
DOIS PRECEDENTES – Nas duas últimas eleições, o ex-governador Geraldo Alckmin e o então senador Aécio Neves concorreram à Presidência da República enquanto comandavam o partido.
Caso Doria optasse por esse caminho, tucanos experientes avaliam que o partido poderia mergulhar numa nova crise interna. Avaliam ainda que, caso ocorressem mudanças nos diretórios em maio, não haveria tempo de pacificar a sigla até as convenções, que acontecem de julho a agosto.
Os grupos que se opõem a São Paulo temem que um aliado do governador paulista no comando os deixe à míngua na divisão dos recursos para a campanha eleitoral.
TENTATIVA DE UNIÃO – Recentemente, o governador escolheu presidente nacional Bruno Araújo para ser o coordenador de sua campanha num gesto que foi lido internamente como uma tentativa de conciliação, já que ele transita em todas as alas do partido. Manter Araújo no comando seria uma forma de ter um canal de diálogo com os grupos do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e do deputado Aécio Neves.
— O debate interno se deu nas prévias. Não faz nenhum sentido ter um processo interno de renovação dos diretórios estaduais, municipais e nacional. Muito melhor deixar para 2023 e reestruturar o partido à luz do pronunciamento das urnas — afirma Marcus Pestana, ex-deputado e assessor da presidência do PSDB.
Questionados sobre o assunto, aliados de Doria dizem que o governador está focado em sua gestão e na entrega de “mais de 8 mil obras em andamento” e que a discussão sobre a presidência dos diretórios deve ser deixada para maio.
PLANOS EM SUSPENSO – Araújo planejava largar a política para se dedicar à advocacia, mas acabou deixando os planos em suspenso ao ver o partido rachado e agora trabalha para aparar as arestas internas. Os acontecimentos recentes dão a dimensão da tarefa.
Na semana passada, Eduardo Leite levantou questionamentos sobre a candidatura de Doria, em entrevista a uma rádio de Fortaleza. O governador gaúcho disse que se o paulista não se mostrasse viável nas pesquisas, deveria rever a candidatura.
Aliados de Leite e do ex-governador Geraldo Alckmin em São Paulo têm defendido o nome da senadora Simone Tebet (MDB) como o mais viável para a terceira via, além de cogitarem apoiar um candidato ao governo do estado pelo PSD para concorrer com o vice-governador Rodrigo Garcia.