Carlos Newton
Se estivesse vivo, o ex-governador Leonel de Moura Brizola, último dos grandes líderes do trabalhismo no Brasil, precedido por Alberto Pasqualini, Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha e João Goulart, estaria completando 100 anos neste sábado (dia 22).
Convidados pelas repórteres Ana Luiza Albuquerque e Catia Seabra, da Folha, familiares de Brizola, velhos aliados e alguns líderes políticos do país responderam qual seria o posicionamento político de Brizola e quem ele estaria apoiando na eleição presidencial deste ano.
Juliana Brizola, deputada estadual do PDT no Rio Grande do Sul e neta do ex-governador, disse que Brizola, politicamente, estaria com o partido dele. “Hoje temos um projeto nacional de desenvolvimento liderado pelo Ciro Gomes que representa muito o que Brizola defendia. Acho que eles têm muito em comum, a defesa da educação e a mudança no modelo econômico, que é muito importante para que a gente possa voltar a crescer. Tenho dúvidas se ele defenderia com unhas e dentes o Lula”, afirmou a deputada.
OUTROS NETOS – Leonel Brizola Neto (PT), ex-vereador e também neto de Brizola, disse às repórteres da Folha que Brizola estaria contra as privatizações, defenderia a Petrobras e as empresas estatais. E lutaria por vacina e comida para todos os brasileiros. “Estaria com Lula como sempre esteve nas horas mais cruciais da história brasileira. Brizola sempre dizia: Ou nos unimos agora ou seremos degraus para a direita chegar ao poder”, assinalou.
Carlos Brizola, ex-ministro e ex-deputado pelo PDT, também neto do ex-governador, afirmou que seu avô era um nacionalista, um líder que dedicou a sua vida defendendo o projeto de desenvolvimento de Getúlio Vargas, e nos últimos anos era um crítico ferrenho do atual modelo econômico neoliberal.
“Neste atual contexto político-eleitoral só vejo Ciro Gomes defender estes valores, a mudança do atual modelo econômico e a defesa de um Projeto Nacional de Desenvolvimento. Aliás, não foi por acaso que Ciro Gomes foi seu último voto para presidente, em 2002”, acentuou.
CIDINHA E TARSO – Ex-deputada estadual e federal, afilhada política de Brizola, a jornalista Cidinha Campos (PDT), afirmou que o ex-governador incentivaria de qualquer maneira a educação porque é a única coisa que pode nos tirar do caos que enfrentamos hoje. “A política mudou tanto depois que ele morreu, pessoas que estavam de mal agora estão de bem, pessoas que não se falavam têm sem apoiado. O Brizola não era de guardar rancor de ninguém. Acho que estaria com o Ciro nas eleições, mas também poderia estar com o Lula, por que não?”
Já Tarso Genro (PT), ex-governador e ex-ministro, apontou que não existem políticos gaúchos do campo da esquerda que não tivessem, de forma mais, ou menos intensa, alguma relação com Brizola — seja por unidade com ele, seja em contradição com ele— em algum tema relevante.
“Se não estivesse concorrendo, tentaria formar uma chapa Lula e Ciro (ou Ciro e Lula), mas não tenho certeza, se estivessem em chapas diferentes, qual dos dois ele apoiaria no primeiro turno. No segundo turno, não tenho a mínima dúvida que ele apoiaria quem se opusesse a qualquer candidato da direita’, opinou.
SIMPLES E FORMAL – Trajano Ribeiro, ex-deputado, advogado e secretário no governo Brizola, afirmou às jornalistas Ana Luiza Albuquerque e Catia Seabra que o líder trabalhista não era uma pessoa normal, que tem interesses pessoais, preocupa-se em ganhar dinheiro. As pessoas se surpreendiam com Brizola, uma pessoa simples, muito respeitoso e bastante formal. Era muito difícil chamar uma pessoa de você, ou tu. Em geral chamava de senhor.
“Se fosse vivo, estaria em oposição ao governo Bolsonaro, teria se oposto ao impeachment da Dilma Rousseff, denunciado as interferências estrangeiras nesses episódios. Quanto às eleições, estaria defendendo o candidato do partido. Caso não chegássemos ao segundo turno, apoiaria o candidato mais comprometido com o projeto de Getúlio Vargas, seguido em grande parte por Juscelino e Jango, defendendo a prevalência do trabalho sobre o capital, a soberania nacional e a educação integral para todos os brasileiros’, acrescentou.
SALOMÃO E VIVALDO – Luiz Alfredo Salomão (PSB), secretário no governo Brizola e ex-dirigente do PDT, disse que Brizola apoiou Collor e tentaria apoiar Bolsonaro. “Ele se sentiria atraído pelo discurso nacionalista de Bolsonaro. Mas logo iria se decepcionar, por exemplo, com o alinhamento de Bolsonaro ao governo Trump e o favorecimento das petroleiras americanas”, disse, assinalando:
“Nas eleições, estaria a favor de Lula. Brizola já teria percebido que Ciro é como cavalo paraguaio. Larga na frente, mas não chega”, ironizou.
O ex-deputado pedetista Vivaldo Barbosa, que hoje está no PT, também acha que Brizola, hoje, estaria ao lado de Lula, sem dúvida. “Sendo homem de pensamento, sendo trabalhista e nacionalista, não titubearia em ver que o único político no Brasil, hoje, que abraça as causas trabalhistas é o Lula. Assim como o PT é o partido que mais defende a legislação trabalhista, a Previdência Social e as estatais estratégicas”, acentuou.
DUTRA E MAIA – Olívio Dutra (PT), ex-governador gaúcho e ex-ministro, assinalou que Brizola foi uma figura importante para seu tempo e merece respeito. Mas, quando voltou ao Brasil, o momento político era outro, com trabalhadores atuando no processo político.
“Hoje ele estaria no campo de oposição, dada essa situação desgraçada em que temos um celerado na presidência. Acho que Brizola votaria no Lula, mas faria de tudo para que seu partido tivesse um espaço maior na coligação”, disse Olívio.
Cesar Maia (DEM), vereador e ex-prefeito do Rio, lembra que recebeu três conselhos de Brizola, quando foi convidado para ser secretário de Fazenda em 1983: 1) Não acredite que o governo está quebrado. É sempre assim. Quem acredita perde o controle. 2) O secretário de Fazenda não é do partido, não é do governo, é do governador. 3) Nunca aceite convite de empresários para almoços e jantares nas casas deles, ou para fins de semana fora. Secretário da Fazenda ou está na secretaria, ou no trânsito, ou com o governador, ou em Brasília ou em casa.
“Certamente hoje Brizola teria uma ênfase ainda mais acentuada no fator social e na redução da desigualdade. No quadro atual, nenhuma dúvida de que apoiaria Lula”, opinou Maia.
APOIARIA LULA? – Com todo o respeito a maioria das opiniões colhidas por Ana Luiza Albuquerque e Catia Seabra, o editor da Tribuna pede licença para duvidar que Leonel Brizola pudesse apoiar Lula agora em 2022.
Como se sabe, Brizola foi o político mais investigado da História do Brasil, porém jamais se conseguiu provar a menor irregularidade que tivesse cometido. Até mesmo seus inimigos políticos reconheciam-lhe a retidão e a honestidade.
Assim, como imaginar que Brizola fosse apoiar justamente um falso líder trabalhista, que montou o maior esquema de corrupção do mundo, enriqueceu no poder e permitiu que outros petistas, como José Dirceu e Antonio Palocci, também fizessem fortunas ilicitamente?