Marcelo Knopfelmacher
Estadão
“O que é política?” – o título da edição de manuscritos redigidos por Hannah Arendt para uma “Introdução à Política” é pergunta que traz outras coisas mais e a seguinte resposta: “A política baseia-se na pluralidade dos homens. Deus criou o homem, os homens são um produto humano mundano, e o produto da natureza humana. (…) A política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças.”
E nós? O que é política para nós, brasileiros em 2022, este importantíssimo ano de eleições gerais?
POLARIZAÇÃO – Para muitos, foi colocada a ideia de que existe uma polarização entre dois candidatos: um candidato é “A” e outro candidato seria o “Não A”.
Ocorre que a diversidade humana, diferentemente da escolha binária das redes sociais (like ou dislike; curti ou não curti) não funciona da mesma maneira. Se a política se baseia na pluralidade dos homens, como dizia a filósofa alemã Hannah Arendt, então essa pluralidade não pode estar limitada a uma escolha “A” ou “Não A”.
Já escrevemos aqui nesse mesmo Estadão anteriormente defendendo que três ou mais candidatos possam ir para o segundo turno, desde que atinjam um coeficiente mínimo de votos, para justamente evitar que a escolha final (dentro de uma polarização artificialmente colocada) esteja restrita a apenas votar neste por não querer aquele – ou seja, por exclusão.
SEM HAVER EMENDA – Mas nós nem precisamos de uma Emenda Constitucional que permita isso. Basta já desde o primeiro turno decidir fora dessa polarização que iria nos conduzir, necessariamente, a uma decisão salomônica.
E o que é decidir fora da polarização? Decidir fora da polarização basicamente significa reduzir a ansiedade e não ter como certa a disputa entre o candidato “A” e o candidato “Não A”.
É escolher com paciência se pautando nos seguintes princípios: A polarização apresentada traz soluções positivas para o país? Tivemos experiências verdadeiramente boas no passado com “A” ou “Não A”? O que queremos para o nosso país em termos de governança? Merecemos mais ou devemos nos contentar com o que já tivemos?
PERGUNTAS CRUCIAIS – Essas são e devem ser as perguntas que devemos fazer a nós mesmos para a escolha de um candidato; e não se o candidato “Não A” já ganhou e, portanto, vou votar nele também.
Voltamos a Hannah Arendt: “Na diversidade absoluta de todos os homens entre si – maior do que a diversidade relativa dos povos, nações ou raças –, a criação do homem por Deus está contida na pluralidade. Mas a política nada tem a ver com isso. A política organiza, de antemão, as diversidades absolutas de acordo com uma igualdade relativa e em contrapartida às diferenças relativas.”
Então, que possamos nos valer das lições de Hannah Arendt e sermos plurais, decidindo fora da polarização “A” ou “Não A”, artificialmente colocada e que reduz a política a um clique de like ou dislike de rede social.