Fábio Zanini
Folha
Tido como carta fora do baralho por políticos, analistas e a imprensa, o ex-juiz Sergio Moro surpreendeu ao dar sinais claros de que está disposto a fazer uma reentrada triunfal na disputa presidencial neste final de ano. Em 10 de novembro, ele deve se filiar ao Podemos, no que deverá ser um concorrido evento em Brasília.
Em seguida, sai em turnê de lançamento de seu aguardado livro sobre a Operação Lava Jato, que comandou até aceitar integrar o governo do recém-eleito presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em 2018.
CANDIDATURA – Tudo isso aparenta ser aquecimento para o evento maior, o anúncio de sua candidatura para a eleição de 2022, que deve ocorrer no primeiro semestre do ano que vem.
Aliados próximos de Moro dizem que duas coisas em especial o motivam a sair candidato: a possibilidade de tirar votos de Bolsonaro, hoje um desafeto até maior do que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e a defesa da operação de combate à corrupção que o projetou nacionalmente.
A Lava Jato, desde que Moro a abandonou, sofreu reveses em série, que levaram, na prática, ao seu fim. Houve desde derrotas judiciais, como o fim da prisão após condenação em segunda instância, até os áudios que revelaram a proximidade do então juiz com a força-tarefa de procuradores do Ministério Público Federal.
LAVAJATISMO – Se não é mais possível ressuscitar a Lava Jato, ao menos o “lavajatismo” pode ser salvo? A mera entrada em cena do ex-juiz já provocou alguns movimentos nesse sentido.
Em Maringá (PR), terra de Moro, o movimento Médicos Contra a Corrupção colocou na entrada da cidade, na semana passada, um outdoor em defesa da operação. “A Lava Jato acabou? Criminosos torcem pelo sim. Nós torcemos pelo não”, diz o cartaz, com a hashtag #somostodoslavajato. O material também diz apoiar o Ministério Público Federal e a Polícia Federal “totalmente independentes”.
A referência não foi gratuita, mas pensada para ajudar na campanha contrária à proposta de emenda constitucional que alterava a composição do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), vista como uma ameaça à independência da instituição.
EMENDA REJEITADA – Na semana passada, a emenda foi derrotada, embora o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tenha dado sinais de que vai tentar novamente votar a matéria.
O grupo que colocou a peça de propaganda é formado por cerca de 200 profissionais de saúde de Maringá e outros estados, e apoia a candidatura do ex-juiz a presidente.
O exemplo paranaense é um caso pontual, mas que tende a se espalhar à medida que o ressurgimento de Moro no cenário eleitoral acorda uma base que estava dormente.
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MORO PODE SER CANDIDATO AO SENADO POR SP
Mônica Bergamo Folha
A candidatura de Sergio Moro ao Senado por São Paulo passou a ser discutida entre lideranças que tentam colocar em pé o que definem como “terceira via” nas eleições de 2022. Ele deve se filiar ao Podemos nos próximos dias.
Moro sempre foi próximo e manteve diálogo com o PSDB do estado, que deve lançar Rodrigo Garcia para o governo de SP e sustenta a pré-candidatura de João Doria à Presidência da República.
BARALHO?- A eventual candidatura de Moro poderia embaralhar o cenário eleitoral para o Senado em SP e seria uma reviravolta para a própria terceira via. Uma campanha dele para o parlamento no estado poderia fortalecer Doria, caso o tucano seja escolhido pelo partido para disputar a Presidência.
A disputa ao Senado pelo governo do Paraná, estado onde nasceu e atuou, seria mais tranquila —mas, para isso, uma das maiores lideranças do partido, o senador Álvaro Dias, teria que desistir da reeleição. Moro candidato ao Senado pelo Paraná poderia, por outro lado, fortalecer o nome de Álvaro Dias para ser vice de algum candidato a presidente.
Lideranças do Podemos acreditam também que o desempenho de Moro nas pesquisas para presidente pode ser tão superior ao de outros nomes que pretendem se firmar como terceira via que sua candidatura à sucessão de Jair Bolsonaro pode se tornar incontornável.