Pedro do Coutto
Atualmente no Brasil cerca de 20 milhões de pessoas passam as 24 horas do dia sem ter o que comer, até mesmo alguns dias por semana. Enquanto isso, 24,5 milhões de brasileiros e brasileiras não têm certeza se vão se alimentar no dia seguinte. Além disso, 74 milhões são atingidos pela insegurança sob a hipótese de ter que passar por isso.
É o que revela reportagem de Fernando Canzian, Folha de S. Paulo desta quinta-feira, com base em dados da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, instituição inclusive usada pelo IBGE para os seus cálculos sociais. A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar calcula que 55% da população brasileira enfrenta uma situação de pelo menos alguma carência alimentar.
CUSTO DE VIDA – A fome tem avançado e, em sua matéria, Fernando Canzian acrescenta que nos últimos dez anos o total de favelas dobrou no país. A meu ver, mantido o congelamento dos salários dentro da política do ministro Paulo Guedes, em pouco tempo o problema da fome terá alcançado uma parte da atual classe média que está empobrecendo em consequência da inflação e da não reposição do custo de vida em seus salários.
Com isso, observa-se um processo de empobrecimento de grande parte dos que vão aos supermercados diariamente. Outra prova do avanço da pobreza está na redução do rendimento domiciliar, de acordo com pesquisa da FGV Social dirigida por Marcelo Neri. Essa renda per capita domiciliar que era de R$ 249 por mês caiu para R$ 172, uma consequência também do desemprego porque a média de pessoas por família permanece em quatro pessoas por unidade, mas o rendimento dos que sustentam se encolheu e com isso encolheu também o cálculo per capita.
INFLAÇÃO – A reportagem é de Cleide Carvalho, O Globo, e destaca o fato de que o IBGE registrou nos últimos 12 meses uma inflação de 10,25%, mas a alimentação domiciliar atingiu 14,4%, o que revela que atingiu com mais intensidade os segmentos sociais de menor renda porque na média algébrica a alimentação pesa mais nas despesas gerais do que o reflexo na classe média.
O professor da PUC, Luíz Roberto Cunha focaliza os efeitos climáticos no custo de vida, mas o fato – acrescento – é que os preços continuarão subindo. Depois de julho do próximo ano, portanto a três meses das eleições presidenciais, eles podem até subir com menor velocidade, mas incidirão sobre os patamares registrados hoje no país. Isso significa que não irão retroceder, mas apenas subir menos do que subiram entre setembro de 2020 e setembro de 2021.
Em matéria de poder aquisitivo da população, portanto, o problema se agrava sem parar. Um dos pontos que demonstram o peso do aumento de preços encontra-se no Rio e em São Paulo, locais onde estão sendo permitidos o retorno do público aos jogos de futebol. O número de ingressos adquiridos está sendo muito menor do que o previsto pelos clubes e já está produzindo efeito negativo entre a receita proporcionada e a despesa obrigatória. Os ingressos estão muito caros e os exames para a Covid-19 acrescentam bastante à despesa. Carlos Petrocilo, Folha de S. Paulo, focaliza a questão.
COMBUSTÍVEIS – A Câmara dos Deputados, destaca Fernanda Trisotto, O Globo, aprovou nova lei federal para a cobrança do ICMS pelos estados sobre combustíveis, como é o caso da gasolina, do óleo diesel, do gás de cozinha e do gás encanado. Atualmente, os preços dos combustíveis são atualizados pela Petrobras com base na média aritmética de cada 15 dias. Pela lei aprovada, essa média passará a ser anual. A meu ver, a alteração influirá pouco no preço, A mudança parece ser um lance para arquibancada, como se diz no futebol.
Porque os preços estão sendo reajustados pela Petrobras também com base no valor do barril de petróleo no mercado internacional e também com base na flutuação do dólar do mercado nacional de câmbio. Assim, essas duas variáveis continuarão incidindo sobre a fixação dos preços. A média anual não altera os números registrados de fato, apenas adia uma parcela da cobrança.
A população brasileira continuará pagando combustíveis que serão reajustados da mesma forma. O período de um ano significa somente um adiamento no preço cobrado dos postos de abastecimento.