Em meio a uma nova produção, o autor soteropolitano colhe os frutos do seu romance premiado “Torto Arado”
Mesmo sem data para concluir o segundo romance, o autor prevê o desdobramento das relações do homem com a terra, que não se esgotaram nas linhas de “Torto Arado”. Um desafio e tanto após o envolvimento do público com o enredo marcante de Bibiana e Belonísia, duas irmãs do Sertão baiano unidas após o acidente em que uma delas perde a voz. No livro, a riqueza de detalhes transporta o leitor a um cenário rural ainda alimentado por injustiças sociais. Tão imagético que, segundo Itamar, o diretor pernambucano Heitor Dhalia adquiriu os direitos da obra para uma produção audiovisual voltada para streaming.
Até então, o romance vem ganhando notoriedade pela conquista de prêmios como o Leya de Literatura, em Portugal, – País onde o livro foi lançado primeiro – além de Jabuti e Oceanos (ambos em 2020). Não à toa, a narrativa já bateu os 100 mil exemplares vendidos no País.
“O curioso é que a gente não escreve pensando em prêmios. Eu achava que, quando concluído, ia querer lançar, mas eu não tinha editora e, por isso, o livro acabou sendo publicado por uma editora em Portugal. Mas a história e os prêmios não mudam como a gente se relaciona com a literatura. É uma chancela que diz que você tem um valor literário, sem modificar os sentimentos mais simples”, analisa o autor.
O Brasil profundo
Graduado em Geografia e servidor do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Itamar conhece de perto muitas das questões levantadas em seus textos, em que é possível identificar a complexidade social do País em toda sua desigualdade de valores e gênero – vale lembrar a força das suas protagonistas femininas.
“Mas, como leitor, eu me interesso por literaturas diversificadas e a gente está em construção, com novos interesses para acrescentar. Nossa vida é muito dinâmica, e hoje se aborda questões que são caras para a nossa formação enquanto pais e que, daqui a cinco anos, a gente fale, por exemplo, de outras coisas mais urgentes”, destaca.
Embora o autor levante temas que o próprio Brasil ainda não se reconhece, ele acredita conseguir a empatia do leitor – inclusive não-brasileiros – a partir de sentimentos universais. “Mesmo não vivendo algumas realidades, o desejo de não ser explorado e de equidade é para todos. Sem contar que o Brasil é um país de urbanização relativamente recente, se formos comparar com outros países desenvolvidos. A nossa memória afetiva do campo ainda está muito ligada às lembranças familiares”, completa.
Influências na literatura
Entre 1995 e 1998 seu pai trabalhava no Porto de Suape e a família inteira residiu em Jaboatão dos Guarapes. “Lembro do impacto de ter lido “Morte e Vida Severina”, do pernambucano João Cabral de Melo Neto, na minha adolescência, além de compreender a relevância de Ariano Suassuna, que era paraibano, mas residiu em Pernambuco”, diz, completando a lista com outros escritores brasileiros importantes, a exemplo de Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz.
“Embora eu fale de autores do passado, que leio hoje com o mesmo interesse, o mundo tem um ritmo muito acelerado, e é inevitável que a literatura seja influenciada por tantos fatos por aí afora. Ainda assim, acho que, quando escrevemos, a gente subverte, porque o tempo da literatura é um tempo de convite para parar e refletir”, observa.
FONTE: FOLHAPE