Paulo Cappelli, Natália Portinari e Julia Lindner
O Globo
Enquanto apura indícios de corrupção e de omissão em relação à compra de vacinas, a cúpula da CPI da Covid volta a sua mira para o Palácio do Planalto. Integrantes da comissão têm reunido informações sobre a atuação durante a pandemia de ministros do governo, de aliados mais próximos de Jair Bolsonaro e dos filhos do presidente.
O objetivo é mapear os principais personagens da cadeia de comando do grupo suspeito de praticar irregularidades no Ministério da Saúde.
DECISÕES DIRETAS – A CPI da Covid recebeu informações de que decisões estratégicas e políticas na Saúde foram disparadas pelo Planalto ao então número dois do Ministério da Saúde, Elcio Franco, sem passar pelo então ministro, Eduardo Pazuello. Franco, que ocupava o posto de secretário executivo, era o responsável pelas negociações de vacinas. O contato direto, segundo os dados em poder da CPI, se dava com a Casa Civil, à época comandada por Walter Braga Netto.
Outro foco do colegiado tem como personagem central Roberto Dias, ex-diretor de Logística do ministério. Ele confidenciou a pessoas próximas que recebia pressão do Planalto para que o processo de compra da vacina indiana Covaxin andasse com mais rapidez.
Durante o depoimento de Dias, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que o ex-diretor recebia ordens diretas da Casa Civil. E, nas palavras do senador, Dias preparou “um dossiê” com essas informações.
DISSE AZIZ — “O senhor sabe que o senhor fez um dossiê para se proteger. Eu estou afirmando, eu não estou achando. Nós sabemos onde está esse dossiê e com quem está. Não vou citar nomes para que a gente não possa atrapalhar as investigações. O senhor recebeu várias ordens da Casa Civil por e-mail, lhe pedindo para atender… Era “gente nossa”, “essa pessoa é nossa”. Isso foi durante o tempo todo em que Vossa Excelência está nesse cargo — afirmou Aziz.
O ex-diretor de logística foi preso em flagrante pela comissão por perjúrio, pagou fiança e foi liberado. Senadores admitem, entretanto, que esta frente ainda necessita de mais informações que corroborem os dados já em análise.
Ainda assim, a ideia de convocar Braga Netto para prestar depoimento tem sido semeada por oposicionistas desde o início dos trabalhos da comissão. Há um receio, no entanto, de que a medida poderia criar um desgaste institucional com as Forças Armadas, já que Braga Netto é o ministro da Defesa.
CONVOCAÇÕES – “Eu já apresentei requerimento de convocação do general Braga Netto, já apresentei requerimento de convocação do (Luiz Eduardo) Ramos (ex-titular da Secretaria de Governo, hoje na Casa Civil). Entendo que eles têm explicações a prestar” — disse Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente da comissão.
Mas por ora, não está nos planos da cúpula da CPI convocar Braga Netto ou Ramos , como afirmou Aziz.
Nos próximos dias, o colegiado também pretende levantar mais informações sobre suspeitas de fraudes em contratos envolvendo hospitais federais no Rio de Janeiro — que eram administrados por um militar aliado de Pazuello. O caso foi revelado em maio pelo “Jornal Nacional”.