O conceito de Aldeia Global, criado na década de 60 por McLuhan, fundamentou, desde então , uma nova visão do mundo, cada vez mais reafirmada, nos tempos de hoje, a partir das crescentes possibilidades abertas pelas tecnologias de informação e de comunicação, com a abolição virtual das distâncias temporais e espaciais. O acesso à informação é imediato e cada vez engloba uma quantidade mais expressiva de indivíduos de todas as partes do mundo e, ao menos teoricamente, enseja uma certa organização social planetária que permite participação independentemente de distâncias.
É decorrente daí um sistema de vasos comunicantes que faz com que um fato acontecido em um ponto do planeta seja capaz de provocar repercussões imediatas nas mais diversas e distantes regiões. Na economia, essa é uma realidade palpável : qualquer alteração grave no processo econômico de um país pode redundar em problemas para todas as nações. Estamos assistindo, desde 2008, a uma situação desse tipo. Vivemos , no plano econômico, um momento em que, por força dessa vinculação global calcada em lógicas do “deus” mercado, países acabam interferindo no destino de outros, impondo-lhes medidas restritivas até à sua soberania, em nome da salvaguarda dos pretensos interesses do mundo todo.
Essas considerações vêm a propósito da Rio + 20, que acaba de encerrar-se em meio a um grande debate sobre sua efetividade. Duas posições distintas, antagônicas, tentam resumir os efeitos do conclave. De um lado, ativistas e organizações não governamentais do mundo todo, somados a muitos cientistas e especialistas nos problemas ambientais, consideram que o encontro foi frustrante, pouco objetivo, com deliberações construídas com discursos que de tão genéricos nada acrescentam como equacionamento para a pretendida sustentabilidade. Para esses críticos, faltou ousadia, comprometimento, fixação de metas capazes de apontar soluções concretas.
Os ambientalistas colocam em discussão o próprio encontro e a validade da busca de um consenso planetário capaz de unificar interesses absolutamente contrários, que envolvem mais de 190 países. Os governantes seriam, em geral, reféns de sistemas com peculiaridades locais que não permitem atitudes da mesma natureza. Os países mais ricos , cuja riqueza está calcada em conquistas que, ao longo do tempo, foram obtidas à custa da degradação do planeta, querem agora impor a nações em desenvolvimento ações que jamais praticaram, como forma de perpetuar hegemonias. Aliás, e não por acaso, o único governante do chamado G-7 presente ao encontro foi o recém-eleito presidente francês.
É inegável que os interesses não são os mesmos, em um mundo de culturas e visões tão diversas e de tantos desníveis e desigualdades entre as nações. Para dar um exemplo,é demais esperar que países que têm na caça às baleias uma forte atividade econômica estejam preocupados em regulamentar a chamada defesa das águas internacionais dos oceanos, tão cara aos princípios ecológicos. Da mesma forma que é impraticável esperar que os países da OPEP (e, quem sabe, mesmo um país como o Brasil) aceitem limitações ao uso dos combustíveis fósseis…
Mas então, como justificar como positivo o encontro da Rio + 20? Os argumentos elencados pelos que viram a conferência com otimismo colocam em destaque como altamente relevante a amplificação, que a conferência permitiu, da discussão dos temas da sustentabilidade e da preservação do planeta. Se os resultados ainda não foram os esperados, é em eventos desse tipo que se constrói , ainda que por etapas penosas, um processo de conscientização . A participação popular, a mobilização de pessoas que, no mundo inteiro, presencialmente ou a distância, protestaram e denunciaram o encontro como improdutivo acaba sendo marca importante nesse processo, uma garantia da continuidade dos debates em busca de soluções. E especificamente em relação ao documento firmado, alega-se que, de qualquer forma, genérico ou não, nele estão traçados os caminhos que, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, a Humanidade terá que trilhar.
Para os brasileiros, apesar de certas cassandras vira-latas – as de sempre – que tentam atribuir à nossa diplomacia a responsabilidade por um possível fracasso do encontro, desconsiderando as profundas dificuldades de um utópico consenso em torno de ações mais concretas, a realização da Rio + 20 deve constituir motivo de orgulho, como um elemento a mais de afirmação da indiscutível posição protagonista que o nosso país vem assumindo no concerto mundial. Mas é claro que nos cabe, ao menos internamente, fazer o nosso dever de casa, que envolve, entre outras medidas, o permanente combate ao desmatamento, a exploração de nossas potencialidades com a chamada energia limpa e a concretização de políticas de preservação da biodiversidade e incentivo ao “emprego verde”
O que parece claro em toda essa polêmica é que, pelo menos até agora, quando se trata da fixação e efetivação prática de medidas vinculadas à ecologia, o mundo – em função da extrema diversidade de posições e interesses – está mais para um conjunto de egocêntricas aldeias antiglobais…
Rodolpho Motta Lima via blog Luis Nassif Online