Rodrigo Zeidan
Folha
O Brasil está em estagflação, fenômeno raro que combina fraqueza econômica e preços em alta. No país, o efeito de uma estagflação, mesmo que temporária, é muito pior que em outros países, pelo altíssimo custo do crédito e pela indexação de muitos contratos ao IPCA e ao IGP-M.
Estagflação é algo incomum porque normalmente crescimento econômico e inflação caminham juntos; quando a economia cresce, há pressão para aumento de preços, mas, quando a atividade econômica desaba, é menos provável que empresas subam seus preços, tanto no atacado quanto no varejo.
ACONTECE O PIOR – Mas, sob certas condições, como crises cambiais, quebra de confiança nas políticas governamentais ou racionamento de energia elétrica, acontece o pior: desaceleração econômica e preços em alta simultaneamente (por exemplo, por repasses de custos inevitáveis).
O IGP-M já explodiu, fechando 2020 acima dos 24% e provavelmente batendo 12% neste ano. E a expectativa de economistas e analistas de mercado é que o IPCA, que no mais recente relatório Focus, que é publicado semanalmente pelo Banco Central e resume as expectativas de mercado para índices de preços e atividade econômica, vai superar os 5%, acima da meta de inflação deste ano, que é de 3,75%.
Enquanto as expectativas de inflação no Brasil sobem, as de crescimento caem. De junho de 2020 a fevereiro de 2021, projetava-se que o crescimento do PIB brasileiro em 2021 seria de 3,5%. Mas hoje se espera que o crescimento do PIB termine 2021 em 3,08% (e em 2,33% em 2022). Se essa projeção se concretizar, o PIB será, ao fim de 2021, menor do que quando o atual presidente assumiu o poder.
QUEDA DO PIB – Com crescimento de 1,1% em 2019, -4,1% em 2020 e 3,08% neste ano, o PIB brasileiro fechará 2021 em R$ 7,63 trilhões, um total menor que os R$ 7,62 trilhões, em valores atualizados, de quando Paulo Guedes assumiu a cadeira de superministro.
No resto do mundo, vemos o oposto de estagflação: recuperação econômica sem preocupação inflacionária, pois a pandemia é uma crise deflacionária: com as pessoas em casa, distanciamento social e incerteza sobre emprego e produção, os preços tendem a subir pouco.
A inflação americana foi somente de 1,25% em 2020 e não deve passar de 2% neste ano. Nos países da OCDE, a inflação em 2020 foi, na média, 1,35% e deve ser de 1,47% em 2021 e 1,68% em 2022. A União Europeia deve crescer 3,8% tanto em 2021 quanto em 2022, mas, se há alguma preocupação com os preços na região, é que a inflação estaria muito baixa, sinal de que haveria espaço para um crescimento ainda maior.
PIOR DO QUE MANTEGA – Mas o que causa o enfraquecimento da economia brasileira com preços subindo cada vez mais? A pior gestão econômica desde que o país conseguiu sair da hiperinflação. Guedes está conseguindo superar, em destruição da economia brasileira, a gestão de Guido Mantega, que entregou um país quebrado e em recessão.
Por exemplo, a disparada da inflação é em parte resultado da incapacidade da equipe econômica de gerar confiança para investimentos, o que levou à fuga de capitais, à disparada do dólar e ao aumento de preços no atacado.
Guedes conseguiu uma façanha única: colocar um país em estagflação no meio de uma crise mundial deflacionária.
Só sairemos do caos e do risco de a estagflação se aprofundar quando este governo acabar. Até lá, só nos resta tentar sobreviver, ao vírus e à incompetência do governo.