Deu no Correio do Brasil
Parte do Conselho da Petrobras saiu em defesa do executivo da empresa, Roberto da Cunha Castello Branco, após o rompante do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de destituí-lo do posto, em público, e indicar o almirante Joaquim Silva e Luna para o lugar. A decisão intempestiva custou o declínio das ações, nas bolsas de todo o mundo, na semana passada, e uma perda de valor acima de US$ 100 bilhões, em questão de horas.
Castello Branco foi indicado ao cargo de presidente da Petrobras pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Uma semana depois, o responsável pela indicação do executivo ainda não se pronunciou sobre os acontecimentos.
HÁ CONTROVÉRSIAS – Já o consultor da companhia, o economista João Batista de Assis Pereira, em texto publicado neste domingo no portal de investimentos GuiaInvest, para assinantes, tem uma ideia bem diferente daqueles que simpatizam com a gestão de Castello Branco, ainda no cargo.
Segundo Assis Pereira, “o estratosférico lucro de R$ 59,89 bi da Petrobras no quarto trimestre foi montado para satisfazer a maioria de seus acionistas estrangeiros, aqueles detentores das American Depositary Receipt (ADR’s, recibos de ações emitidos nos EUA para negociar ações de empresas de fora do país) negociadas em Dow Jones, representando, na verdade, o maior conto do vigário da história das empresas de capital aberto no Brasil”.
RESULTADO FALACIOSO – “Não fica difícil de observar que essa cifra toda remete a fatores não recorrentes, mediante os quais o Castello Branco e séquito montaram esse falacioso resultado, utilizando de reversão de impairment (deterioração de ativos na contabilidade) de R$ 31 bilhões, ganhos cambiais de R$ 20 bilhões e reversão arbitrária de gastos passados do plano AMS (plano de saúde dos funcionários ativos e aposentados) montados em R$ 13,1 bilhões, decorrente da revisão de obrigações futuras da empresa com seus empregados, aposentados e pensionistas em seu Plano de Saúde. Façam o somatórios desses resultados não recorrente para certificarem que o resultado real, excluídos fatores não recorrente, sairia no vermelho”.
Ainda segundo o economista, “em relação a reversão de gastos pretéritos do Plano AMS de R$13,1 bilhões, tudo leva a crer que a Petrobras deverá voltar atrás, já no próximo balanço. Não vai demorar muito para que milhares de aposentados e pensionistas, que foram prejudicados, recuperarem, em caráter liminar os direitos na justiça, daquilo que lhes foram usurpados pela estatal petroleira, em acordo de trabalho com sindicatos da FUP”.
AO LONGO DOS ANOS … – “Uma boa parte do estrondoso lucro da Petrobras que resultou em falacioso lucro líquido de R$ 59,89 bilhões no quarto trimestre de 2020 decorre principalmente, da baixa contábil dos gastos da Petrobras no seu Plano Multidisciplinar de Saúde, deixando transparecer que será suportado por milhares de aposentados e pensionistas da estatal, ao longo dos anos vindouros, graças a gigantesca ampliação da margem de descontos consignados a serem praticados doravante nos contracheques de milhares de aposentados e pensionistas da Petrobras, passando, absurdamente dos 13% para 30%, redundando em um gigantesco valor de reversão de gastos passados do plano AMS da Petrobras em R$ 13,1 bilhões”, detalha.
Assis Pereira acrescenta que “essa quantia bilionária decorre da revisão de obrigações futuras da empresa com o Plano de Saúde.
ACORDO ABSURDO – A brutal mudança no percentual de descontos consignados transferirá uma boa parte dos R$ 13,1 bilhões dos contracheques de aposentados e pensionistas da Petrobras, diretamente para investidores institucionais norte-americanos, na forma de dividendos, aqueles possuidores das ADR”.
“Eis a formula mágica praticada por Castello e séquito, que, na prática retira dos aposentados e pensionistas da Petrobras e os transfere a investidores estrangeiros. Essa pratica de transferir elevado valor dos pobres e desprotegidos aposentados e pensionistas da Petrobras, deixará praticamente zerados os valores de vencimentos, nos contracheques de milhares de velhinhos sexagenários da Petrobras, resultado do absurdo “acordo” ocorrido entre o Sindicato dos Petroleiros e da alta administração da Petrobras, obtido na calada da noite, nos derradeiros momentos do dissídio coletivo bienal (2021/22), ocorrido em reunião não presencial por conta da Pandemia, que surpreendeu a todos nós brasileiros, sobretudo empregados, aposentados e pensionistas da Petrobras”, resume.
Procurado para repercutir o conteúdo do artigo dirigido aos investidores da companhia, a reportagem do Correio do Brasil não teve o retorno das ligações.