Associações de delegados, juízes, procuradores, Associação Artigo 5º apoiam um projeto suprapartidário de anistia para Protógenes, com assinatura de políticos de todos os partidos.
Protógenes X Moro. Paradoxo de uma democracia necrosada
Por Armando Rodrigues Coelho Neto
Eu estava largado nos corredores da PF paulista, sem sala, sem função e sem ramal. O superintendente me mandava falar com o coordenador e o coordenador me mandava falar com o superintendente. Virou jogo de empurra, pois ninguém queria assumir a responsabilidade pela irresponsabilidade comigo.
Peguei o telefone, liguei para a Corregedoria Geral e expliquei o que estava acontecendo. De pronto, o então corregedor mandou um pedido urgente para que providenciasse “a imediata apresentação do servidor nesta Coger, com ônus para essa SR”. Era dessa forma que eu me livrava da famosa NASA na PF.
NASA era o segundo apelido do “corredor”, quando por maldade, assédio moral, punição branca se jogava (?) o policial perseguido ao léu.
Fui para a Corregedoria, em Brasília, e lá recebi um ofício oriundo da Justiça Federal para tomar o depoimento de Protógenes Pinheiro Queiroz. Claro, que Protógenes, naquela altura dos acontecimentos, me deu alguns balões, pois estava no auge da perseguição promovida pela PF, pela mídia e pela quadrilha de um banqueiro.
A rigor, eu havia pedido abertura de processo contra Protógenes, depois de conversar com o repórter César Tralii (TV Globo) e não conseguir falar com o repórter cinematográfico Robson Cerântula, que estaria cobrindo fora do País, salvo engano, jogos da Copa das Confederações (2005).
Uma sindicância não tinha a força suficiente adoção das medidas suficientes como, por exemplo, eventuais quebras de sigilo ou conduções coercitivas
Um belo dia, em Brasília, me aparece o delegado Queiroz, completamente transtornado, visivelmente abatido, aspecto estranho. Disse estar se apresentando para ser ouvido. Perguntei: onde está seu advogado? Não tenho, respondeu. Você acha que eu tomaria o depoimento de um colega nesse estado, sozinho?
Acionei o advogado da Associação Artigo 5º – Delegados e Delegadas da Polícia Federal para a República e Democracia. Eles conversaram via telefone e resolvemos agendar uma data na qual o colega, em perfeitas condições de saúde física e mental, pudesse prestar depoimentos.
Feito isso, no mesmo dia, fui dar uma volta pelas ruas de Brasília, ao som de poemas de Fernando Pessoa, na voz de Jô Soares: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada… eu que tenho sofrido enxovalho calado… Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos..”
Depois da volta pelas “avenidas de gás neon” de Brasília com Protógenes. Depois, deixei-o em casa e a cena do reencontro dele com o filho, que pronto pulara em seu pescoço, me trouxe lágrimas aos olhos. “Pai!”. Cena linda, sem palavras, um silêncio que dizia tudo num ato de abraçar. Linguagem intensa, profunda, gente emocionada.
Protógenes, olhos igualmente marejados, me olhou e disse: “você vem aqui para me dar uma força e tá desse jeito, seu porra”. Fui embora, e no caminho me disse: segunda-feira vou declinar desse trabalho. Não tenho mais isenção para conduzir esse expediente, nem cumprir essa ordem judicial. Pedi a redistribuição do feito.
Por mais uma ironia do destino, eu estava morando de favor no apartamento de um amigo, que me pediu para alojar uma equipe operacional em missão reservada. Como o ap estava vazio, comprei colchões, lençóis, abasteci a geladeira, reservei o quarto para a policial mulher e fui dormir. Não vi a equipe chegar nem sair.
Dia seguinte, soube que a equipe que dormira em minha casa teria feito uma constrangedora busca na casa do colega Protógenes. Eis a cena que motivou o desmonte do colega que me procurara no final do expediente, na cena que descrevi lá em cima. Depois disso, perdi o vínculo com Queiroz, era assim que eu o chamava.
Passei a acompanhar à distância, pela imprensa, o infausto ordálio do colega Protógenes, sob a sanha punitiva da Polícia Federal movida à mídia. Sim, não descarto vaidades, vícios humanos, pequenos erros…
Finalmente, peritos da PF analisando uma filmagem, vêem pelo espelho o cinegrafista que filmava bandidos tentando subornar outro colega da PF
Como Protógenes não é Moro, não valeu o conteúdo. Valeu a forma. Desde então, passei a fazer comparações com o ex-juiz Sérgio Moro, useiro e vezeiro em vazar informações. Tinha até celular aberto transmitindo audiência sigilosa para o site das “Antas”, onde mais tarde Moro passaria a ser colaborador.
Os crimes de Protógenes são os mesmos de Moro, esse em maior grau.
Moro ganhou promessa de ser ministro do STF, virou ministro da Justiça, recebeu promessa de pensão para a família caso acontecesse algo com ela, ganhou notoriedade, virou candidato enquanto uma fundação de bilhões veio dos EUA para fins “divinos”, e hoje, administra o butim recebendo dinheiro da Odebrecht…
Enquanto Moro nada em dinheiro, tem a mídia golpista ao seu lado, Protógenes vive em silêncio, censurado, num minúsculo apartamento na Suíça, com uma pequena ajuda de custo do governo local e dos amigos. Mesmo assim, nada disso provoca reflexão entre grande parte dos seus pares, sempre a perguntar: “E o Lula”?
Associações de delegados, juízes, procuradores, Associação Artigo 5º apoiam um projeto suprapartidário de anistia para Protógenes, com assinatura de políticos de todos os partidos. Trata-se do PL 997/19, com pedido de urgência, mas que vem sendo ignorado pela Câmara dos Deputados.
Há dois dias o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) subiu à tribuna para advogar a anistia de Protógenes, destacando em seu discurso, que a história do policial exilado vai além da Operação Satiagraha. Sua aprovação é mais que oportuna nesse instante no qual holofotes mostram com clareza as maracutaias da Farsa Jato.
Protógenes X Moro é um paradoxo de uma democracia necrosada.
Protógenes atuante! Anistia já!
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Policia Federal, ex-integrante da Interpol em São Paulo.
Fonte:GGN