Vicente Nunes
Correio Braziliense
A sexta-feira (18/09) marcou o início de uma queda de braço dos investidores com o governo. Os donos do dinheiro querem saber até onde vai o compromisso do presidente Jair Bolsonaro com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e, sobretudo, com o ajuste fiscal. Teme-se que o descontrole das contas públicas continue depois de passada a pandemia do novo coronavírus.
A pressão dos investidores por uma postura mais clara de Bolsonaro veio por meio de uma forte queda da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e da disparada do dólar e dos juros futuros.
DÉFICIT E DÍVIDA – É grande a desconfiança quanto à capacidade do governo de conter o deficit público e evitar uma explosão da dívida pública. O nervosismo é tamanho que o Tesouro Nacional já enfrenta dificuldades para colocar títulos da dívida no mercado.
O dólar encerrou a sexta-feira cotado a R$ 5,378 para venda, com alta de 2,83%. O Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, desabou 1,81%, para os 98.290 pontos. A taxa de juros do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 2,82% para 2,97% ano. Nos contratos de janeiro de 2023, saltou de 4,14% para 4,38% anuais e, naqueles com vencimento em janeiro de 2025, passaram de 6,02% para 6,31%.
CONTAS PÚBLICAS E INFLAÇÃO – Também começa a incomodar o mercado uma postura um tanto leniente do Banco Central com as contas públicas e a inflação, que começou a se assanhar. Os investidores consideraram o comunicado pós-reunião do Comitê de Politica Monetária (Copom), na quarta-feira (16/09), muito suave diante da gravidade das finanças federais. A taxa básica de juros (Selic) foi mantida em 2% ao ano.
Para os investidores, a percepção que se tem é a de que Bolsonaro, de olho apenas na reeleição, está testando todos os limites de Guedes ao fritá-lo em praça pública e ao exigir demissões na equipe econômica.
Publicamente, o presidente diz que o ministro da Economia continua prestigiado. Nos bastidores, porém, afirma que Guedes não está entregando nada do que prometeu e ainda cria constrangimentos ao governo com suas propostas.
APOSENTADORIA E PENSÃO – O mais recente entrevero de Bolsonaro com Guedes foi a proposta do secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, de congelar aposentadorias e pensões para bancar o Renda Brasil, substituto do Bolsa Família. O presidente sabia das propostas, mas, diante da reação negativa, sobretudo entre as camadas mais pobres da população, que vêm sustentando a popularidade do governo, ele decidiu jogar para a plateia.
Os donos do dinheiro, contudo, não estão mais dispostos a embarcar nas aventuras de Bolsonaro nem endossar a manipulação que ele faz dos fatos. O nível do estresse começou a subir. E tal movimento só está no começo.