Em 1954, ela ficou em segundo lugar no Miss Universo, deu fama a um bolo e já contou ao Estadão que teve a faixa de Miss roubada
Martha Rocha, a primeira Miss Brasil morre no Rio de Janeiro Foto: ACERVO ESTADAO
O corpo da baiana nascida em Salvador foi enterrado neste domingo, 5, no Cemitério do Santíssimo Sacramento.
A eleição de Martha Rocha
A ex-modelo foi eleita Miss Brasil em 1954, então com 18 anos, quando o concurso passou a ser realizado oficialmente. Naquele mesmo ano, ela ainda ficou em segundo lugar na disputa de Miss Universo, perdendo para Miriam Stevenson, em um concurso nos EUA. O motivo: a brasileira tinha duas polegadas a mais de quadril, ou seja, além do “ideal”.
De acordo com a cobertura do Estadão na época, a votação foi acirrada. Muitos norte-americanos afirmaram que escolheriam Martha como vencedora. O então cônsul brasileiro em Los Angeles, Roberto de Oliveira Campos, afirmou: “Uma esplêndida propaganda do Brasil nos Estados Unidos”. Para ele, a modelo nascida em Salvador transformou a cara do País no exterior. “Estou inclinado a aceitar a teoria dos que pretendem que o coração do Brasil está na Bahia”, defendeu.
A conquista do posto rendeu um recado especial de Martha aos leitores do Estadão, transmitido no dia 28 de julho de 1954. “Sinto-me imensamente feliz pelo título obtido. Não fui eu quem o ganhou, mas a beleza da mulher brasileira que tentei representar.”
De volta ao Brasil, o sucesso de Martha foi fulminante. Seu nome batizou um bolo, inspirou um modelo de carro – com duas polegadas de distância entre os eixos – e foi recebida como grande musa brasileira com marchinhas e festas.
A trajetória da modelo abriu portas para o segmento no âmbito internacional. Nas décadas seguintes, o Brasil conquistaria bons lugares no Miss Universo; a primeira foi Ieda Maria Vargas, em 1963, Miss Mundo e Miss Beleza Internacional.
Em 2004, em uma entrevista ao Estadão, Martha afirmou que não tinha mais o troféu de Miss Universo nem a faixa de Miss Brasil. Segundo ela, os objetos foram roubados em Salvador, em 1975, durante o velório de sua mãe.
Na época, ela organizava uma exposição com mais de 400 peças de seu acervo pessoal, incluindo reprodução de trajes e fotos com personalidades e políticos, como Juscelino Kubitschek e sua esposa Sara, o ator de Hollywood Tony Curtis, o príncipe Charles e a rainha da Inglaterra Elizabeth II. Também havia uma foto da modelo com o presidente Getúlio Vargas, meses antes do suicídio.
Depois dos 50 anos, Martha enfrentou um câncer e para se recuperar foi viver com o filho em Volta Redonda, no Rio.
A ideia de permanecer na cidade chegou junto com a descoberta de talento artístico para pintura, ela contou ao Estadão, em 2004. “Costumo dizer que tenho o mar, as rochas, tudo dentro de mim. Eu poderia ter escolhido viver em qualquer lugar do mundo, até em castelos na França. Acusam-me de caipira, mas o que tenho é amor pelo Brasil.”
Nos últimos anos, Martha enfrentou dificuldades financeiras e afirmou em suas redes sociais que teria perdido todo seu dinheiro para o cunhado. “Em 1995, com a fuga de Jorge Piano com todo o meu dinheiro, superei meus problemas com suporte dos meus filhos, amigas e o meu trabalho honrado, vendendo meus quadros e ganhando cachê para divulgar o concurso Miss Brasil.” Ela deixa três filhos: dois do primeiro casamento com o banqueiro português Álvaro Piano e uma filha com Ronaldo Xavier de Lima.