Revelação feita pelo jornal Folha de S. Paulo contradiz polêmica iniciada após o lançamento de biografia de Raul Seixas.
Paulo Coelho Souza, o escritor e parceiro de Raul Seixas, e Paulo Coelho Pinheiro em fotos tiradas na década de 1970.
Uma ficha policial de dezembro de 1973 pode dar um ponto final à suspeita de que Raul Seixas teria delatado o então parceiro musical e hoje escritor de fama mundial Paulo Coelho para os órgãos de repressão da ditadura militar.
Ao que tudo indica, Paulo Coelho Souza (o nome completo do escritor) foi confundido com Paulo Coelho Pinheiro, um militante do extinto Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, o PCBR, que, além de ter cursado direito como seu quase homônimo, também possuía características físicas semelhantes.
A suspeita de que Raul Seixas fosse um delator da ditadura se deu por conta de um documento do Centro de Inteligência do Exército, de 24 de abril de 1974, que Medeiros publicou em seu livro. Nele, conta que Raul e Paulo eram, sim, investigados pelos órgãos de repressão por conta da canção Ouro de Tolo, do disco Krig-ha, Bandolo!, lançado em julho de 1973.
Mas o que foi decisivo para que Raul Seixas fosse chamado a dar um depoimento à polícia foi o lançamento, simultâneo ao álbum, de uma história em quadrinhos ilustrada pela então companheira de Coelho, Adalgisa Rios, que já havia sido reconhecida pelos militares como militante do PCdoB.
No tal documento posterior ao depoimento de Raul, está escrito que “por intermédio do compositor” eles poderiam localizar e prender “o foragido Paulo Coelho Pinheiro, do PCBR”.
Depois disso, Paulo Coelho Souza, o parceiro de Raul e hoje famoso escritor, foi preso e torturado nos porões do temido DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) por duas semanas.
A revelação do livro de Medeiros chacoalhou a imensa base de fãs de Raul Seixas, que passou a ter o seu legado como artista muito questionado nas redes sociais.
Porém, a reportagem da Folha traz um depoimento essencial para esclarecer essa questão, o de Diogo, único filho de Paulo Coelho Pinheiro. O engenheiro ambiental de 34 anos conta que seu pai foi realmente um militante do PCBR que, foragido, conseguiu escapar para a França e viveu em Pais até a anistia, quando retornou ao Brasil e viveu uma vida discreta até sua morte, em 2011.
Outra fonte importante é Jean Marc van der Weid, um ex-companheiro de militância de Pinheiro, que tempos depois de sua fuga, se juntou ao colega em Paris. Ele confirma as atividades de Paulo Coelho Pinheiro e até a sua participação em um protesto de estudantes contra a ditadura militar que ficou conhecido como Sexta-Feira Sangrenta.
Tanto na época do lançamento de Não Diga que a Canção Está Perdida, quando a suspeita veia à tona, quanto agora, após a revelação desse documento de 1973 e as afirmações de Diogo e Jean Marc van der Weid, o escritor Paulo Coelho não comenta o caso.