Ordens partiam de presídio em Pernambuco, revela inquérito da Policia Federal
Uma tabela com preços que cada um dos assassinatos chegou a ser feita; o assassinato de Albuquerque valeria R$ 500 mil. No entanto, era a morte do governador Camilo Santana (PT) que correspondia a maior recompensa, conforme trechos do inquérito da operação Reino de Aragão, deflagrada em dezembro último pela PF, ao qual O POVO teve acesso. Era prometido a quem matasse Camilo Santana R$ 1 milhão.
As investigações da PF tiveram acesso ao celular de um dos principais chefes da GDE, Ednal Braz da Silva, o Siciliano, que é natural de Umbuzeiro, na Paraíba e se encontrava recolhido na Penitenciária Doutor Ênio Pessoa Guerra, no Estado de Pernambuco. O criminoso integra uma lista de comando de um grupo criminoso em que figuravam outros nove homens com funções de chefia. Esses nove já foram presos pela Polícia Civil cearense, em ações distintas, desde o final do ano de 2018.
De dento do presídio pernamhucano, Siciliano comandou, segundo a Polícia Federal, os ataques e incêndios no Ceará.
Nas mensagens trocadas entre integrantes da facção, um dos principais assuntos debatidos é o estado do sistema prisional após a chegada de Mauro Albuquerque ao comando. A PF captou um “salve”, espécie de memorando das facções que circulam nas redes sociais, em que chefes da GDE dizem que o sistema prisional vivia um “retrocesso”. “Como que um Governador eleito democraticamente pode permitir que um secretário mande e desmande dentro do seu estado de maneira tão irresponsável? (sic)”, diz trecho do texto. “MANO tem que coloca pânico nese mauro (Albuquerque)… Coloca uma recompensa… 30 mil o crime paga… Só pra dexa ele doido… (sic)”, diz outro, em 19 de setembro. “… “Então ofereça logo a recompensa de 150.000 pela cabeça desse cara safado Eu mesmo dava 20mil do meu bolso… (sic)”, fala, por sua vez um terceiro, em um grupo, em 23 de setembro.
O secretário penitenciário do Ceará também recebeu críticas do secretário de Justiça de Pernambuco, Pedro Eurico, que comanda a Pasta responsável pelos presídios pernambucanos, de onde partiram as ordens contra autoridades cearenses.
Já em 11 de setembro, um membro da facção diz estar “na fita” para matar o secretário. “Tem que pegar uma rotina dele e se for necessário sacrificar 40, 50 ou 60 pessoas, vai tudo pro saco (sic)”. “Mno, acho que essa situação agora nós só vamos ter êxito se nós conseguir esse secretário pedir clemência ou cair, enquanto esse cara estiver de pé nada vai mudar viu (sic)”, em 24
de setembro.
A ação mais contundente, conta o jornal cearense, porém, é registrada em 24 de setembro, em pleno auge dos 141 ataques orquestrados pela GDE que paralisaram o Estado naquele mês. Nessa data, em um grupo chamado “Planejamento”, é postado mais um salve, desta vez prometendo recompensas por assassinatos. A cada categoria visada é prometido um valor, a partir de R$ 3 mil. As ameaças iam de “cabuetas” que trabalham com o “Governo e vereadores” ao governador Camilo Santana, passando por policiais, promotores e juízes. O secretário André Costa e o deputado estadual Vitor Valim (Pros) também são ameaçados — R$ 100 mil e R$ 300 mil, respectivamente, são ofertados pelas suas mortes. O assassinato de Mauro Albuquerque valeria R$ 500 mil.
Outro “salve” também faz ameaças a integrantes do PT, partido do governador Camilo Santana. A motivação seria o “apoio à o a tortura dentro do sistema (sic)”. “Aonde foi identificado o membro do PT vai ser executado no automático (sic)”, diz a mensagem.
A liberdade com que Siciliano comandava ataques e ameaças a autoridades cearenses de dentro de um presídio pernambucano levou a Policia Federal e a DRACO cearense a pedirem e obterem sua transferência para um presídio federal.
Leiam techo do inquérito da Polícia Federal
“A GDE trabalha para, no Estado do Ceará, firmar-se como poder maior, a que os poderes estatais devem se curvar. Para garantir a concretização desse intuito, seus líderes não hesitam em planejar ações brutais, para eliminar não somente os membros das facções rivais, mas também qualquer tipo de autoridade estatal que se contraponha aos interesses da organização criminosa. Neste sentido, os líderes da GDE chegam a ordenar, ofertando vantagens financeiras, o assassinato de policiais, juízes, promotores, agentes penitenciários, políticos, e, em especial, do Governador do Estado do Ceará, Camilo Sobreira de Santana, e de seu atual Secretário de Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque de Araújo”.