Detido e torturado por paraquedistas

Livro descreve terror físico e psicológico sofrido por Henri Alleg

A TORTURA

· Preço R$ 39,90 (80 págs.)
· Autor Henri Alleg (Tradução: Samuel Titan Jr.)
· Editora Todavia
Por TATI BERNARDI
Em novembro de 1955, o ex- diretor do recém extinto jornal de oposição ao regime colonialista francês e militante comunista Henri Alleg estava na casa de um amigo, na capital Argel, quando foi levado à força por militares paraquedistas franceses para ser interrogado e torturado.
Meses depois de todo o terror físico e psicológico que sofreu, Alleg escreveu em pormenores precisos e sem sentimentalismo, como passou, nas mãos de Charbonnier, Érulin, Lorca, General Massu e outros carrascos, por inúmeros espancamentos, afogamentos, queimaduras e choques (incluindo a virilha e a língua) amarrado a pranchas cheias de vômitos secos, tentando bravamente não sucumbir à fome, à sede, às ameaças à vida de seus filhos e às injeções de “soro da verdade” (lhe aplicaram para que entregasse, entre outros nomes, o do colega que lhe dava abrigo desde que Henri passou a viver na clandestinidade).
Este livro (que não tardou em ser proibido) é uma denúncia escrita enquanto o autor ainda estava sob “os cuidados” do confinamento. Alleg fez chegar o texto à França (primeiro uma versão menor, com a ajuda do procurador-geral de Argel, e depois as páginas desta obra, com a ajuda de seu advogado e um editor independente) e seu relato de dor e horror alcançou enorme repercussão na imprensa francesa e internacional. Acabou solto por uma campanha liderada por Jean-Paul Sartre e outros intelectuais. Infelizmente, o amigo Maurice Audin, “desaparecido”, não teve a mesma sorte e foi assassinado.
Alleg conta que os berros de sofrimento e pavor de muitos jovens, dentre eles mulheres, no centro de triagem, o humilhavam ainda mais do que a violência que acabava de sofrer. Certa noite pensou ouvir os gritos da esposa, em um dos delírios causados pelas escoriações e pela febre.
Sua resistência foi tanta que, durante a prisão, não foram poucos os militares que o parabenizavam, “o senhor é dos duros”, e um dos seus algozes quase lhe dirigiu um aperto de mão, num impulso respeitoso. Chegou a receber, escondida, uma sacola com cerejas e chocolates.
No que chamou de “escola de perversões”, sofreu ainda privação de sono e de higiene. Enquanto comia os restos da comida dos paraquedistas (com bitucas de cigarros e caroços de frutas cuspidos), pensava que, caso morresse, teria valido a pena lutar pela liberdade daquele povo e ter ido até o final fazendo o que ele acreditava ser o certo. Tinha orgulho de ser um europeu respeitado como igual por argelinos e muçulmanos que, ao encontrá-lo pelos corredores da prisão, o cumprimentavam, “coragem, irmão”.
Alleg começa seu relato dizendo que perante tanto sofrimento naquelas celas lotadas “falar de si mesmo é quase uma indecência”, mas que “dar a conhecer a verdade também é uma maneira de contribuir para o cessar-fogo e para a paz”.
Ao receber a visita de um tenente, ouviu que o “colonialismo” era uma palavra inventada pelos derrotistas: “a guerra já teria terminado há muito tempo mas os comunistas, os liberais, a imprensa “sentimental” sublevavam a opinião pública contra os paraquedistas e os impediam de ‘trabalhar’”.
Se pensarmos que nosso atual presidente paraquedista nunca cansa de elogiar torturadores e desmerecer a imprensa, este livro é, infelizmente, bastante pertinente e necessário.

 

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