Problemas de atenção também podem ser confundidos com questões de memória
Por Mariana Coutinho
“Várias pesquisas lançam otimismo em relação ao envelhecimento do cérebro, e apontam para a possibilidade de recuperação da memória se ela for estimulada, por exemplo, com exercícios físicos, com o hábito da leitura, atividades e cursos que despertem o interesse e a motivação”, avalia a psicóloga Janice Valentim,que promove atividades de memória ativa no Espaço Stella Torreão.
Por outro lado, há fatores que influenciam negativamente na memória, e acabam por agravar os efeitos do tempo, como álcool e drogas, depressão, deficiências nutricionais, privação de sono, estresse contínuo e algumas doenças. Não são apenas questões neurológicas que podem comprometer a memória, mas também a deficiência de vitaminas e problemas hormonais, como o hipotireoidismo.
Os esquecimentos, Valentim ressalta, muitas vezes estão mais ligados a problemas de atenção do que a perda de memória: “Hoje, além do acúmulo enorme de informações, o grau de preocupação é tanto que o trabalho não se encerra com o término do expediente. A pessoa passa o dia trabalhando, ao chegar em casa liga o computador e continua em atividade, comprometendo as horas que deveriam ser reservadas para descansar e dormir. Essas situações são responsáveis por aumento da carga de estresse e pelo déficit de atenção, que pode provocar prejuízo da memória, principalmente da memória recente”, acrescenta. Ela acredita que o envelhecimento pode acentuar o déficit de atenção, de concentração e de armazenamento de dados atuais.
Embora a capacidade de aprendizado na infância seja maior do que na idade adulta, é consenso entre os cientistas que o cérebro continua a se desenvolver ao longo da vida. A estratégia, então, é encontrar maneiras de manter as conexões cerebrais em boas condições e estimulá-las a crescer. O cérebro possui plasticidade e muda de acordo com atividades e exercícios que incentivem o seu potencial de aprendizagem.
“Em geral, a memória funciona com a repetição dos estímulos. Um exemplo é a ação de decorar uma poesia. Quanto mais vezes ela for lida, mais ficará arquivada na memória. É a repetição do estímulo sucessivas vezes que explica a memória maravilhosa dos mais velhos para fatos antigos. Provavelmente, eles serão capazes de repetir com mais fidelidade a poesia lida e relida na adolescência do que as pessoas que a tenham decorado há pouco tempo”, diz a psicóloga.
Exercícios para a memória
Para exercitar a memória recente, a neurologista Caroline Bittar recomenda o aprendizado de novas línguas, artesanato, palavras cruzadas e outros jogos intelectuais, leitura e escrita regulares: “Livros, jornais, revistas, tudo estimula. Escrever também é importante. Manter um diário ou um blog pode ser uma boa ideia”, avalia.
Para Janice Valentim, atividades que fujam da rotina e criem estímulos criativos são muito benéficas para a memória: “Assim como o sedentarismo torna o corpo indolente, o excesso de previsibilidade subutiliza o poder do córtex cerebral de formar novas associações. Tudo o que é inusitado, como fazer diferente, ser criativo, estimula a comunicação entre os neurônios. É preciso engajar a atenção e estar presente no agora”, observa.
Ela indica meditação, imersão em outras culturas (quanto mais diferentes, melhor!), atividades que demandem planejamento e comprometimento (cuidar de uma horta ou aprender um instrumento musical, por exemplo), interações sociais com pessoas diferente e tarefas que, de uma forma geral, tirem da zona de conforto. Também é preciso dormir bem e controlar o estresse.
As pessoas que tem mais chances de ter problemas de memória são as estressadas e ansiosas, sedentárias, que se alimentam mal, não tem vida social, fumantes e que não dormem o suficiente. “A melhor maneira de ter bom desempenho no dia a dia, em atividades acadêmicas e profissionais é ativar o cérebro. Precisamos de uma certa pressão para evoluirmos. O cérebro estimulado cria ramificações. Fazer exercícios físicos é um ótimo ansiolítico e reforça o pensamento criativo”, conclui Valetim.