Blog do Magno Martins
Com a trágica morte de Eduardo Campos, em agosto de 2014, ocorre uma acomodação na estrutura de poder em Pernambuco. A partir daí, a viúva Renata Campos, até então agindo em silêncio e de forma discreta nos bastidores, passa à posição de líder única inconteste do grupo, atuando, sobretudo, nas sombras, mas sempre com punhos de ferro. Ao mesmo tempo, Geraldo fez juras de lealdade incondicional, conquistando a posição de lugar-tenente de Renata.
Algo determinante foi que Geraldo assumiu o comando total e absoluto da eleição de Paulo, inclusive a parte financeira, pois Aldo, a essa altura, tinha “sumido” do circuito político, viajando misteriosamente ao Exterior junto com a esposa, especialmente Europa e China, logo após o acidente com Eduardo. Pelo que conseguimos coletar de informação, Aldo Guedes não fez nenhuma contribuição para a primeira campanha de Paulo Câmara. Geraldo foi quem ficou à frente para comandar de forma centralizada todas as ajudas, junto com uma equipe da sua extrema confiança.
Pelo que ouvimos, vale ressaltar que Geraldo assumiu astronômicas dívidas, até mesmo junto a um expressivo conjunto de importantes agiotas. Essas dívidas são segredos enterrados a sete palmos, mas diversas fontes indicaram que só o saldo devedor a pagar com caixa-dois após a campanha de 2014 atingiu cifras incalculáveis, incluindo aí compromissos financeiros com políticos, muitos dos quais até hoje não teriam sido honrados.
Informações foram passadas de que houve compulsão de Geraldo para levantar a base financeira da campanha, contando com o apoio integral de Renata e de Paulo. Era tão grande a ponto de ao mesmo tempo fazer compromissos com políticos, coletando valores em empréstimo junto a dois prefeitos até então ricaços, um na Região Metropolitana e outro na Zona da Mata. Na época, empresários muito ricos, que “adiantaram” dinheiro vivo em valores para a campanha.
Então eleito, Paulo fica na condição de verdadeiro “prisioneiro” de Geraldo. Isto porque foram as manobras do atual prefeito do Recife que o colocaram na chapa majoritária, mesmo sem Paulo ter qualquer experiência nem o mínimo de vontade ou carisma para isso. Depois, Geraldo comandou a campanha, fazendo uma aposta financeira fora de qualquer proporção, inclusive correndo riscos legais gigantescos. A conclusão natural é que, ao final, o verdadeiro vitorioso das eleições de 2014 foi Geraldo. Só que o mando real do jogo tem outro nome: Renata. Mas de toda forma, isso cacifou Geraldo para ser o número um da líder do grupo.
ORDEM ERA ISOLAR TONCA
Nesse contexto, Tonca ficou completa e inteiramente alijado, marginalizado, praticamente humilhado e ofendido, sem ter qualquer interlocutor. Pelo contrário, foi até mesmo perseguido. O que se agravou quando participou da eleição para prefeito de Olinda, tendo tanto Geraldo quanto Paulo simulado dar apoio a ele, mas na prática foi um golpe político, determinado por Renata, pois, na surdina, assumiram um acordo com Augusto Coutinho para eleger Lupércio prefeito.
Isso, naturalmente, enfureceu Tonca, ao descobrir que havia sido vítima de uma brutal traição e caído numa cilada, como pura armação da cunhada. A partir daí, o rompimento irreversível foi sendo alargado ao ponto de hoje Tonca se tornar o inimigo público número 1 do grupo. Isso porque, tudo foi se agravando, até chegar ao que se revela uma guerra sem direito a armistício, mesmo depois de recentemente alguns ilustres membros da família Arraes terem feito apelo dramático para a ministra Ana Arraes ajustar com seu filho de se ter pelo menos uma pausa. Tonca, mesmo contrariado, cedeu aos apelos da mãe.
Mas, nas manobras desnorteadas dos seguidores de Renata, foi cometido o equívoco de tentar desmoralizar e humilhar Tonca, através da matéria na revista Época. Isso tudo iniciado a partir da intervenção infantil e desastrada de João de Andrade Lima Campos atacando publicamente o único tio paterno na Câmara Federal. Isso bateu fundo no irmão de Eduardo, que resolveu revelar tudo o que sabe ao Ministério Público Federal. O conjunto da revelação se prenuncia como algo pior que na Paraíba de Ricardo Coutinho, segundo deixou vazar o próprio Tonca.
Tudo aponta para que “O Míssil Chamado Tonca” provoque gigantes danos e revele pelo menos parte da sujeira sem fim desses 15 anos de poder do PSB, sob as rédeas de Renata de Andrade Lima Campos, com especiais luzes para as acusações combatendo tudo de incorreto e ilegal nas administrações de Geraldo Júlio e de Paulo Câmara. Pelo que soubemos, abaixo estão alguns dos focos principais do que está sendo levantado e alguns já em avançado processo de investigação pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal:
INVESTIGAÇÃO UM
Corrupção na merenda, no fardamento e outros gastos supostamente com “educação (vale ressaltar que aqui a deputada Priscila Krause vem fazendo denúncias sérias, mas o Governo do estado segue a negar, despudoradamente: https://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2019/10/08/priscila-krause-ve-disputa-no-governo-para-superfaturar-fardamento-escolar-em-pernambuco/)”. Tanto por parte de Paulo Câmara quanto por Geraldo Júlio, alega-se que são derrames de dinheiro que deveriam estar alimentando as crianças pobres que freqüentam as escolas públicas, mas são desviados. Existem indicações que a Polícia Federal tem diversas gravações a incriminar alguns dos secretários mais íntimos de Paulo Câmara e envolver o próprio governador.
INVESTIGAÇÃO 2
Denúncias de corrupção na compra de remédios e materiais de saúde para os hospitais, UPAs, policlínicas, maternidades, unidades do Programa de Saúde da Família (PSF) e centros médicos espalhados nos Distritos Sanitários da Capital e em todo o Estado. Médicos comentam que quando se vai num serviço de saúde não encontra medicamentos básicos, mas os caros estão disponíveis em abundância, pois é onde se pode “fazer” mais dinheiro; além de muitos outros horrores que deverão envolver figuras com a mais completa intimidade junto a Paulo Câmara e Geraldo Júlio.
INVESTIGAÇÃO 3
Denúncias de corrupção na gestão de hospitais pelo modelo de OS, sob o comando de Antônio Figueira, secretário especial de Paulo Câmara, também pessoa de confiança direta de Renata e principal assistente de Geraldo Júlio e Paulo Câmara na coordenação da campanha de João Andrade Lima Campos para fazer do menino o deputado federal com o maior número de votos da história de Pernambuco.
INVESTIGAÇÃO 4
Denúncias de corrupção na gestão de fundos financeiros do Estado e da capital, incluindo a parte de previdência social dos servidores, o fundo estadual de assistência social, o fundo de compensação ambiental, bem como todos os pagamentos que são monitorados respectiva e diariamente por Paulo Câmara e Geraldo Júlio. Nada seria pago no governo do estado ou na prefeitura sem passar pelas mãos diretas de cada um.
INVESTIGAÇÃO 5
Denúncias de corrupção na gestão dos presídios, incluindo compras de produtos e serviços terceirizados. Aqui, Paulo Câmara teria especial contribuição do secretário Pedro Eurico, pessoa da sua mais total e absoluta confiança.
INVESTIGAÇÃO 6
Denúncias de corrupção nas obras públicas, agora utilizando empreiteiras de médios e pequenos portes, dentro do velho esquema de ganhar a licitação com preços super baixos e manipulação nas medições que geram na prática superfaturamentos, junto com todas as manobras que eram praticadas com a Queiroz Galvão e Odebrecht, mas continuam com outros grupos menos visados. O nome que é mais citado parece ser o de Renato Xavier Thièbaut, pessoa da mais absoluta e irrestrita confiança de Paulo Câmara.
INVESTIGAÇÃO 7
Denúncias de corrupção na Polícia Militar, envolvendo compras variadas, bem como obras de emergência com a participação de oficiais ligados a Paulo Câmara, Geraldo Júlio e especialmente Renata, a exemplo do Coronel Mário (https://g1.globo.com/pernambuco/noticia/pf-deflagra-operacao-contra-desvio-de-recursos-publicos-na-casa-militar-do-governo-de-pernambuco.ghtml).
INVESTIGAÇÃO 8
Denúncias de corrupção envolvendo serviços de telefonia com a Oi e outros provedores, somando cifras bilionárias, um dos maiores escândalos de Paulo Câmara, mas que não tem sido devidamente coberto pela grande imprensa nem pela oposição (https://flaviochaves.com.br/2019/12/17/pernambuco-usina-de-escandalos-forcas-politicas-estariam-por-tras-de-manobras-para-manter-empresa-de-telecomunicacoes-alvo-da-lava-jato-por-pagar-propinas-para-obter-benesses-a-frente-do-pernambuco/ e https://www.blogdanoeliabrito.com/2019/12/pernambuco-usina-de-escandalos-forcas.html); aqui também alguns dos secretários mais íntimos de Paulo Câmara e ele próprio estariam envolvidos.
INVESTIGAÇÃO 9
Identificação da responsabilidade pela morte de Paulo César de Barros Morato, que em 2016 foi encontrado morto no motel Ti-ti-ti, em Olinda. Morato era parte do esquema que liga empresas de fachada à compra do avião Cesna Citation, usado por Eduardo no dia do acidente, e um dos cinco integrantes indiciados pela Polícia Federal acusados de um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 600 milhões, fonte de recursos para financiamento ilegal de campanhas do PSB de Pernambuco; existem gravíssimas suspeitas não consideradas durante o encerramento da investigação. Na época, o Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol) apontou graves falhas nas investigações que rapidamente levou à conclusão de suicídio sem as devidas medidas técnicas exigidas pelas boas práticas policiais (http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2016/06/sinpol-apresenta-documento-com-ordem-para-pericia-nao-feita-em-motel.html).