Grandes jantares, muito uísque e uma vida sexual bastante ativa, a monarca britânica podia usufruir de sua altíssima posição na sociedade para desfrutar de qualquer coisa que seu paladar quisesse
Símbolo do imperialismo britânico no século 19, apoiadora da expansão territorial inglesa e do fortalecimento da burguesia industrial, a rainha Vitória eternizou a imagem de soberana sólida, digna e confiável. No entanto, um olhar mais acurado revela uma mulher marcada por perdas, contradições e transtornos emocionais.
Dona de um voraz apetite, a monarca vivia sob imposições de dietas por seus pais devido a sua grande fome. De acordo com a historiadora britânica Cecil Woodham Smith, eles começaram a se preocupar com o fato da princesa “comer demais e quase sempre um pouco rápido demais”. No entanto, quando se tornou rainha, as coisas mudaram.
Mesmo que na sociedade da época um corpo magro fosse o mais valorizado, sua posição como mulher incomumente poderosa no Reino Unido fez com que ela pudesse fazer — quase — tudo que quisesse, incluindo grandes e fartos jantares. Seu alto cargo no reino fez com que as contradições a atingissem de maneira quase brutal.
Uma dessas contraposições é levantada pela professora de História Contemporânea na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raquel Gryszczenko Alves Gomes: “Falamos de uma mulher liderando um dos maiores impérios mundiais num momento em que as mulheres não têm ao menos o direito ao voto, não têm direito de participação política. É uma dubiedade muito grande”.
Ela, então, passou a ignorar as restrições que poderiam tentar fazer ao seu corpo e apetite e desenvolveu um paladar cada vez mais estrondoso.
As enormes refeições contavam com diversos tipos de alimentos, os quais ela poderia escolher ao longo da noite. Sopas, peixes, frangos e rosbifes normalmente abriam a comilança que viria a seguir.
Batatas eram as maiores paixões de Vitória na mesa — em todas as suas possíveis formas de cozimento. Ela também preferia comer pratos que tivessem ingredientes sazonais, se alimentando sempre de comidas que estivessem na época.
Mas ainda que fosse muito agraciada pelas refeições salgadas, ela realmente preferia os doces. Sorvetes, bolos e tortas eram a perdição da rainha, que os comia como se não houvesse o dia de amanhã. Sabe-se também que um de seus doces favoritos era torta de cranberry com creme.
É possível perceber o gigantesco paladar por doces logo em sua festa de casamento com Albert de Saxe-Coburgo-Gota em 1840. O bolo tinha por volta de 680 kg e quase três metros de comprimento. Era realmente enorme.
Além das comidas, a rainha Vitória também adorava bebidas alcóolicas. Ela era uma amante do uísque, principalmente em seus últimos anos de vida — mesmo que muitos médicos tivessem dito para ela diminuir seu consumo do líquido. Uma destilaria britânica ainda desenvolveu uma versão destinada especialmente à monarca.
Mas um fato interessantíssimo sobre Vitória é, fora seu intenso paladar por comidas, seu apetite sexual. Em seu diário particular, logo após a oficialização da sua união com Albert, ela escreveu uma tímida, mas reveladora observação: “não dormimos muito”. O comentário sobre suas primeiras noites juntos pode também ser levado para a maior parte da rainha, que ficou indignada quando um médico a aconselhou a abandonar a atividade sexual para evitar novas gravidezes.
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