Formado em Letras (Português e Literatura), artista gráfico, músico e poeta carioca João de Abreu Borges (1951-2019), no poema “Loucos os Poetas”, louva a doce loucura de quem traz a poesia na alma e não enxerga horizontes.
LOUCOS OS POETAS
João de Abreu
Loucos, distantes da realidade,
Os poetas nunca sentem saudade
Nem pensam no que o futuro vai trazer
Loucos, os poetas, amam como girassóis,
Diamantes e manhãs
São tão claros que enxergam no escuro
Loucos, os poetas, agarram-se entre as estrelas
Promovem feias e belas
E acabam com suas vidas
Entre os planetas que orbitam ao seu redor
Loucos, os poetas, sem ter qualquer nome algum
Não querem ser apenas um
E tornam-se os homens
Que ocupam a nossa mente e a nossa voz
Loucos,
são estrelas de tudo que não tem forma,
Porque não saíram de uma forma
E se sustentam sobre tantos pés
Estetas,
são tão loucos, não só por serem tão poetas,
Mas por terem as pernas tortas
E sempre driblarem os “joãos”
Loucos,
os poetas, que não enxergam horizontes
E só passam pelas pontes
Quando por elas passam os mais intensos vendavais
Loucos,
os poetas, que gritam pelos oprimidos
Sentem a dor dos sem-sentidos
E ficam ouvindo o mar quando ouvem os sem-faróis
Loucos,
os poetas, mesmo sem querer poder
Podem o que eles querem ser
Apenas com sua dor por sobre a palma da mão
Ainda olha para a lua
Como se ela ainda fosse sua
Última esperança, tanto quanto é esta canção
Ainda hoje, e principalmente hoje,
Mais do que nunca
Nua.
P&C – TI