O artista plástico recifense faleceu nesta quinta-feira , aos 92 anos
O artista plástico recifense Francisco Brennand faleceu nesta quinta-feira (19/12), aos 92 anos, “em decorrência de complicações de uma infecção respiratória”, segundo nota do Real Hospital Português, na capital pernambucana, onde Brennand estava internado há dez dias para se tratar de uma pneumonia. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), decretou luto oficial de três dias no Estado e, em nota, exaltou o legado do artista: “Francisco Brennand foi um artista notável, um homem à frente do seu tempo, como mostra o reconhecimento que obteve, ao longo da sua trajetória, no Brasil e no exterior. Ele pertence a uma geração de artistas que elevaram Pernambuco ao topo”.
Ceramista, escultor, desenhista, pintor, tapeceiro, ilustrador e gravador, Brennand é conhecido por criar gigantescos monumentos, como os do Parque das Esculturas, um dos principais pontos turísticos da capital pernambucana, que reúne 90 peças em homenagem aos 500 anos do descobrimento do Brasil. Uma das que mais chamam a atenção é a Torre de Cristal, feita em argila e bronze, com 32 metros de altura —inspirada em uma flor descoberta pelo paisagista Roberto Burle Marx— e que pode ser vista do Marco Zero de Recife.
A formação artística de Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand, que nasceu em 11 de junho de 1927, começou em 1942, quando passou a trabalhar na Cerâmica São João como aluno informal do escultor Abelardo da Hora. Seus trabalhos refletiam sua preocupação com o meio ambiente e o futuro da humanidade na Terra e, já no fim da década de 1940, ele ganhou seu primeiro prêmio como mestre ceramista. Ficou conhecido como o homem que sabia dar forma aos sonhos e que transformou em arte a vida simples do povo.
No Colégio Oswaldo Cruz, onde se matriculou em 1943 para concluir o segundo colegial, conheceu Déborah de Moura Vasconcelos, que se tornaria sua mulher, e foi colega de sala do escritor Ariano Suassuna. Foi Suassuna quem percebeu o talento de Brennand para fazer caricaturas de professores e colegas, e o convidou para ilustrar poemas publicados no Jornal Literário do colégio.
Em seguida, recebeu influências (e aulas) de pintura de Álvaro Amorim, um dos fundadores da Escola de Belas Artes de Pernambuco, e de Murilo Lagreca. Em seus quadros, estão presentes flores e frutos que parecem flutuar no espaço, explorando o uso de linhas simplificadas e cores puras. O gosto pela cerâmica veio depois, incentivado pelas obras dos espanhóis Pablo Picasso e Joán Miró, além do francês Jules-Fernand-Henri Léger, com quem teve contato durante uma estadia em Paris.
A singularidade de suas obras rendeu-lhe o Prêmio Gabriela Mistral, concedido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1994. Foi o primeiro brasileiro a receber tal honraria.
Em novembro de 1971, o artista resolveu transformar as ruínas da Cerâmica São João da Várzea, (antigo Engenho São João), fundada em 1917 pelo próprio pai, Ricardo Brennand, e, nas ruínas, deu início a um projeto de esculturas de cerâmica que se multiplicaram nas áreas interna e externa do local. Assim nasceu a Oficina Cerâmica que leva seu nome, um espaço cultural cercado de mata atlântica preservada, que constitui-se num conjunto arquitetônico monumental em constante processo de mutação. Lá, a obra de Brennand se associa à arquitetura e cria muitos universos em um único local: há referências a um mundo abissal, subterrâneo, obscuro e, ao mesmo tempo, dionisíaco, religioso e sexual. Brennand trabalhou continuamente na Oficina, convertendo-a em uma instituição intrinsecamente viva.
ERRATA: Uma versão anterior desta matéria confundia a Oficina Cerâmica Francisco Brennand com o Instituto Ricardo Brennand. O EL PAÍS agradece a atenção dos leitores que sinalizaram o equívoco.