Stalkerware: o software que espiona seu parceiro

A perigosa ascensão de aplicativos espiões usados para espionar parceiros. O Brasil está entre os cinco países que mais aderem à tendência

Stalkerware: o software que espiona seu parceiro
Mais de 37 mil dispositivos já foram detectados apenas neste ano (Foto: Pixabay)

Amy estava  viajando com sua família em um fim de semana que parecia perfeito. Um momento raro para uma relação já desgastada e abusiva. Seu marido parecia saber detalhes de sua vida e de seus movimentos.

Ele fazia comentários sem sentido sobre coisas íntimas e vividas por ela quando ele não estava próximo. Quando questionado, ele dizia que ela havia contado e que era ‘louca’. Foi então que, nesta viagem, após tirar uma foto ela percebeu.

“Meu marido me passou o telefone para me mostrar uma foto que ele havia tirado na fazenda e, naquele instante, vi um alerta aparecer em sua tela. Dizia: ‘O relatório diário do Mac de Amy está pronto para ser visto’. Senti esse calafrio passar por mim e parei de respirar por um minuto. Tive que me desculpar e fingi que precisava do banheiro. Tinha que estar lá para o meu filho e fingir que não tinha visto nada”.

“No primeiro momento em que pude, fui à biblioteca usar o computador e procurar o spyware que ele usava. Foi quando tudo fez sentido depois de meses pensando que eu estava ficando louca”. Stalkerware – também conhecido como spouseware – são poderosos programas de software de vigilância normalmente vendidos online. Em um dispositivo, todas as mensagens podem ser lidas, a atividade de tela gravada, os locais de GPS rastreados e as câmeras usadas para espionar o que uma pessoa está fazendo.

Dicas para evitar ser vitimado: 

Não deixe o dispositivo sem vigilância: a maioria dos softwares requer acesso físico.

Bloqueio de impressão digital: um parceiro pode usar sua impressão enquanto você dorme.

Adicionar aplicativo de segurança: o software antivírus também pode detectar spywares e removê-lo.

Segundo a empresa de cibersegurança Kaspersky, o número de pessoas que descobriram esse software em seus dispositivos aumentou em pelo menos 35% no ano passado. Os pesquisadores da Kaspersky dizem que suas tecnologias de proteção detectaram stalkerware em 37.532 dispositivos até agora este ano. E o principal pesquisador de segurança David Emm diz que esta é a “ponta de um iceberg muito grande”.

“A maioria das pessoas protege rotineiramente um laptop ou desktop, não que muitas pessoas realmente protejam um dispositivo móvel. Essas informações estão voltando das instalações do nosso produto em smartphones, então esse número nem chega perto do que seria o total”, diz ele.

Pesquisas da Kaspersky indicam que a Rússia é o país com os mais altos níveis de atividade de stalkerware. Índia, Brasil, Estados Unidos e Alemanha completam os cinco primeiros, com o Reino Unido em oitavo lugar.

Outra empresa de segurança diz que existem medidas práticas que as pessoas podem tomar se suspeitarem que já estão sendo espionadas. “É sempre aconselhável verificar quais aplicativos estão no seu telefone e realizar uma verificação de vírus sempre que necessário. Se houver algum aplicativo no seu dispositivo que você não reconheça, vale a pena pesquisar online por informações e excluí-los. Como regra geral, se você não estiver usando um aplicativo, exclua-o”, diz Jake Moore, do Eset.

Uma vez que Amy percebeu que seu computador havia sido comprometido, ela desenvolveu uma desconfiança severa em tecnologia – que está trabalhando para superar. Essa é uma resposta psicológica comum a esse trauma.

Gemma Toynton, da organização de caridade doméstica Safer Places, diz que vê esse efeito em longo prazo nos casos nos quais trabalha. “Isso reduz a confiança de alguém. Isso faz com que eles vejam um telefone ou laptop como uma arma, porque é para isso que eles são usados. A tecnologia se tornou, em suas mentes, uma rede à sua volta e muitas pessoas se retiram do uso da internet. Realmente afeta toda a sua vida. O fato de que esses stalkerwares estão em alta é uma preocupação real”, diz ela.

Amy, que é dos EUA, agora é divorciada e mora a muitos quilômetros de distância do ex-marido. Ela tem uma ordem de restrição que o impede de entrar em contato direto com ela e ele tem permissão legal para comunicar a logística sobre os cuidados do filho apenas por carta escrita.

As empresas de spyware anunciam seus serviços como produtos de “monitoramento de funcionários” ou “controle dos pais”. Em muitos países, incluindo o Reino Unido, o uso de spyware em um cônjuge sem a permissão deles é ilegal; muitos sites da empresa estão repletos de isenções de responsabilidade que orientam sobre isso.

No entanto, alguns dos mesmos sites apontam para artigos, aparentemente escritos por associados, recomendando o software como uma ferramenta de espionagem para “enganar esposas e maridos”.

Amy diz que mais deve ser feito para legislar contra o uso dessas tecnologias. “Eles precisam parar de se esconder atrás de uma negação plausível. Há uma piscadela que é dada quando eles enviam esse pequeno aviso que diz: ‘Não aprovamos que você espie esposas.’ Eles sabem o que seus clientes estão fazendo. Esse software causa danos reais”, diz ela.

BBC-Stalkerware: The software that spies on your partner

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