Por Cássio Rizzonuto
Quem é que consegue entender o Brasil? Alguém que venha de país sério, democrático, onde as instituições funcionem, seria capaz de afirmar sem tergiversar que o Brasil se encontra entregue a quadrilheiros e bandidos. Marginais de alta desenvoltura e periculosidade.
Quem poderia acreditar que nos EUA, por exemplo, o presidente do Senado fosse capaz de suspender, sem mais nem menos, votação de matéria de interesse nacional? Aconteceu com a Previdência.
Tão somente para Davi Alcolumbre (DEM-AP) correr até à Suprema Corte, a fim de conversar com o presidente daquele órgão sobre decisão de um dos ministros que autorizara apuração e investigação de senador suspeito de praticar falcatruas.
Naquele país, o senador teria de abandonar a vida pública e recolher-se a seus pagos, corroído de vergonha e opróbrio. Aqui, não! Veja-se o caso do senador Ciro Nogueira: vai se licenciar do Senado para atuar na campanha das eleições municipais do próximo ano. Quem irá assumir a vaga? A senhora sua mãe, Eliane Nogueira (PP).
Ciro é presidente nacional do PP, partido cheio de rolos e dos mais envolvidos nos crimes da Lava-Jato. Ele próprio continua solto por conta de ocorrências que nenhuma explicação justifica. Mas o STF não se cansa de liberar os seus membros. Para um deles, o deputado federal Eduardo da Fonte (PE), até tornozeleira eletrônica já foi pedida.
O estrangeiro observaria, muito assombrado, o correr temeroso de nossos dias. Seria capaz de acreditar que deputados e senadores parecem preocupados em arregimentar criminosos e bandidos desqualificados. Como se desejassem formar exército particular, já que as forças armadas nacionais não são como as venezuelanas.
Observe-se a recente derrubada de vetos efetuada pelo Congresso Nacional a 18 itens da Lei de Abuso de Autoridade. Que desejam os legisladores? Mandar mensagem aos criminosos? Dizer que podem agir como quiserem e contar com eles em qualquer situação? Ou o Congresso Nacional está cheio de representantes diretos de quadrilhas?
Um observador estrangeiro ficaria confuso. Concluiria que estão se formando nuvens cinzentas de grave confronto, as quais irão cair quando menos se esperar. A sociedade vai pagar o pato? A população foi às ruas diversas vezes dizer o que deseja, mas quase nada foi ouvido. Elegeu Bolsonaro, mas a surdez ainda ecoa.
Todos os dias são cavados fossos de divisão e de radicalismo. Tudo isso porque o país vem sendo conduzido por parcela inacreditável de homens públicos que primam pela insensibilidade. O que surpreende é o fato de o Brasil conseguir funcionar, apesar da energia contrária, da desorganização e da vergonha quase nenhuma.
E na interdependência dos Poderes, onde cada qual está atado a condicionantes e mazelas do outro, o senador Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE) vai sendo mantido na liderança do governo. O presidente Davi Alcolumbre entende ser ele indispensável para a aprovação de Eduardo Bolsonaro como embaixador nos EUA.
O eleitorado brasileiro ainda não se deu conta de que o Poder Legislativo nacional, em todas as versões e modalidades, tem sido abrigo das mais lamentáveis tendências e dos mais variados horrores. Há muito a se corrigir, e a responsabilidade primeira é de quem escolhe, de quem vota. Enquanto isso, o cheiro de confronto permanece forte no ar.