Polícia já identificou o autor das ameaças ao jornalista e segue investigando a divulgação de folhetos de calúnia e difamação contra o profissional
O jornalista vem sendo ameaçado desde que reportou o chamado “Dia do Fogo”, ocorrido no último dia 10 de agosto, quando produtores rurais se organizaram através do WhatsApp para provocar incêndios em Altamira e em Novo Progresso. Anteriormente, o Sindicato dos Jornalistas do estado do Pará (Sinjor-PA) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também já tinham denunciado as ameaças sofridas por Adécio Piran.
Em resposta à solicitação da ABI, o governo do Pará informou, através de um comunicado, que a polícia já identificou o responsável pelas ameaças ao jornalista. Segundo a nota, o responsável seria Donizete Severino Duarte, administrador de um grupo de WhatsApp denominado “Direita Unida Renovada”. Duarte já prestou depoimento, foi responsabilizado e o processo segue para a Justiça.
Ademais, o comunicado revelou ainda que a polícia prossegue com as investigações. Isso porque Adécio Piran também vem sofrendo campanhas de calúnia e difamação, o que coloca a Folha do Progresso em risco, pois anunciantes estariam sendo forçados a suspender campanhas de publicidade no jornal online.
A segurança do jornalista foi reforçada pela Polícia Militar. Uma “análise de risco” vem sendo feita pela Secretaria Adjunta de Inteligência (Siac), segundo informou a assessora de comunicação social da Secretaria de Segurança do Governo do Pará, Aline Saavedra.
Investigação do “Dia do Fogo”
O chamado “Dia do Fogo” foi convocado por produtores rurais e fazendeiros em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, segundo revelação da Folha do Progresso. A ação teria sido motivada para expressar a Bolsonaro a vontade de trabalhar.
O procurador da República Paulo de Tarso Moreira Oliveira é o responsável pela investigação do “Dia do Fogo”. De acordo com dados do Inpe, houve um aumento “significativo” de queimadas na data apontada e nos dias seguintes, principalmente em Altamira e Novo Progresso.
De acordo com o Inpe, Novo Progresso teve 124 registros de focos de incêndio no “Dia do Fogo”, um aumento em 300% em relação ao dia anterior. No dia seguinte, foram 203 focos. Em Altamira, os satélites detectaram 194 focos de queimada em 10 de agosto e 237 no dia seguinte”, destacou a nota da Procuradoria da República no Pará.
O procurador Camões Boaventura chamou a atenção para as ações contraditórias em relação ao combate das queimadas. Isso porque, mesmo com dados oficiais apontando o aumento do desmatamento, o Ministério Público Federal (MPF) está recebendo menos autos de infração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“O MPF questiona o argumento do déficit orçamentário inclusive com as recentes ações e declarações das autoridades governamentais em Brasília que dispensaram os serviços do Inpe, uma entidade pública federal, anunciando a contratação de empresa privada para realizar o sensoriamento remoto de áreas desmatadas. ‘Dispensou-se, ainda, vultosa quantia que seria repassada por outros países ao Brasil a título do Fundo Amazônia para combater o desmatamento’”, apontou o comunicado.