Delegados dizem que Moro é o alvo indireto de Bolsonaro
Jailton de Carvalho
O Globo
Os embates com o presidente Jair Bolsonaro e as derrotas no campo político são duas fontes de desgaste do ministro da Justiça, Sergio Moro , mas não são as únicas. Nos últimos dias delegados começaram a fazer, discretamente, críticas à atuação de Moro em relação à tentativa de Bolsonaro de emplacar o nome do futuro superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, nem que para isso tenha que demitir o diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo. Uma saída de Valeixo com um contexto político e sem justificativa razoável poderia gerar uma debandada em cargos-chaves da PF em solidariedade.
DEFESA TARDIA – A insatisfação com Moro não se limita mais aos meios sindicais. Alguns delegados, até mesmo do alto escalão, se queixam do silêncio do ministro diante das declarações de Bolsonaro. Estes policiais esperavam que Moro fizesse uma defesa “enérgica” da PF ainda na última semana, o que não aconteceu. Só na manhã desta terça-feira, dia 27, cinco dias após a última ameaça de Bolsonaro de afastar o diretor-geral, é que Moro defendeu o “extraordinário trabalho” de Valeixo à frente da PF. “Alguns policiais queriam que ele (Moro) fosse mais incisivo na defesa da PF”, disse um delegado.
Um eventual afastamento de Valeixo por motivos políticos poderia levar outros diretores a deixar o cargo. Um deles chegou a dizer, em resposta à uma pergunta do O Globo, que estaria na leva de demissionários. Os delegados entendem que é natural um presidente trocar um diretor da PF. Mas dizem que não poderiam aceitar uma mudança no comando da instituição sem uma boa explicação. Caso contrário, poderia parecer que, de fato, a polícia estaria sofrendo uma intervenção externa.
INFLUÊNCIA POLÍTICA – – A Polícia Federal também reconhece a influência histórica de políticos na escolha de alguns cargos, sobretudo de superintendentes. Em geral, diretores procuram indicar para a chefia das superintendências delegados com bom trânsito com autoridades estaduais, sobretudo com governadores. Mas em geral, a participação dos políticos vem sempre como uma sugestão, quase sempre em caráter reservado.
Nunca como uma imposição como, supostamente, Bolsonaro queria fazer. Alguns delegados, no entanto, minimizam as tensões. Para eles, o presidente abriu as baterias contra alguns cargos de comando na Polícia Federal, mas o alvo indireto dos ataques seria mesmo Moro. As últimas pesquisas de opinião mostram que as ações na área da segurança estão entre as mais bem avaliadas do governo federal e que Moro também continua com índices de aprovação melhores que de Bolsonaro.
AFAGOS – No mesmo dia em que elogiou publicamente o chefe da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo , que foi ameaçado de demissão dias atrás pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça trocou afagos com o chefe. Por meio do Twitter, Moro publicou uma mensagem dizendo que sua pasta vai avançar no combate à corrupção “em total alinhamento com a orientação” de Bolsonaro. Três horas depois, o presidente respondeu: “Vamos, Moro!”.
Sergio Moro?@SF_MoroO MJSP está e vai avançar mais no combate à corrupção, com investimentos em métodos modernos de investigação e em total alinhamento com a orientação do PR @jairbolsonaro . Aliás, esse é o nosso compromisso. https://twitter.com/JusticaGovBR/status/1166406143440281606 …Ministério da Justiça e Segurança Pública?@JusticaGovBRMinistro @SF_Moro reforça combate à corrupção como prioridade. Seminário sobre Métodos Modernos de Combate à Corrupção, realizado pela @policiafederal aborda métodos modernos de combate ao crime. http://bit.ly/2HsFm8r
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AFASTAMENTO – Na última quinta-feira, Bolsonaro reafirmou, numa entrevista coletiva, que o delegado Alexandre Silva Saraiva, superintendente da PF no Amazonas, substituiria o delegado Ricardo Saadi no comando da instituição no Rio de Janeiro. Se a ordem não fosse obedecida, ele afirmou que poderia afastar Valeixo da direção da PF à revelia do ministro da Justiça, responsável pela indicação do diretor-geral. Moro não rebateu o comentário do presidente. O elogio público a Valeixo desta terça-feira é a primeira manifestação do ministro em relação à fala do presidente.