Breno Pires e Patrik Camporez
Estadão
A Justiça Federal do Distrito Federal (DF) decidiu que os suspeitos de hackear autoridades devem permanecer presos por tempo indefinido. A prisão preventiva foi determinada pelo juiz Ricardo Leite na noite desta quinta-feira, dia 1º, no limite do prazo para a prisão temporária. A decisão foi tomada a pedido da Polícia Federal. O Ministério Público Federal deu parecer favorável ao requerimento da PF.
O grupo formado por Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Santos, Suelen Priscila Oliveira e Danilo Marques está preso desde o dia 23 de julho, sob suspeita de hackear os celulares do ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato no Paraná, e de até mil autoridades dos três Poderes.
REPRODUÇÃO – Ricardo Leite, responsável pela Operação Spoofing, voltou de férias nesta quinta-feira, dia 1º. As decisões até a véspera haviam sido tomadas pelo juiz Vallisney Oliveira, em substituição. Na sexta, 27, Vallisney havia prorrogado por mais cinco dias a temporária dos quatro investigados.
Na sequência da investigação, a PF busca identificar pagamentos ao grupo, supostamente liderado por ‘Vermelho’. Na residência do ‘DJ Guga’, os federais apreenderam R$ 99 mil em dinheiro vivo. Os federais rastreiam movimentações bancárias e em criptomoedas dos investigados.
RÉU CONFESSO – ‘Vermelho’ confessou à Polícia Federal que hackeou Moro e Deltan e centenas de procuradores, juízes e delegados federais, além de jornalistas. Ele acumula processos por estelionato, falsificação de documentos e furto. Apesar da confissão, o magistrado considerou que há ‘incongruências’ a serem esclarecidas.
O juiz anota a necessidade de apurar a ‘motivação de Walter Delgatti Neto ao repassar informações sigilosas ao sítio eletrônico Intercept, e se recebeu alguma quantia em pagamento’
“O investigado afirma ter agido sozinho e não ter recebido nenhuma vantagem em troca das mensagens capturadas das contas do Telegram de suas vítimas. Ocorre que, dos novos elementos probatórios trazidos pela autoridade policial, da análise dos computadores e discos rígidos arrecadados na residência de Walter Delgatti Neto, laudo pericial atestou a realização de de 5.812 ligações suspeitas no sistema da BRVOZ que tiveram como alvo 1162 números distintos, o que revela a possível atuação de outras pessoas juntamente com Walter”, afirma o juiz.
FRAUDES BANCÁRIAS – Para manter presos os demais nomes, além de ‘Vermelho’, o juiz fundamentou principalmente nas suspeitas de que cometeram crimes como fraudes bancárias. “Foram encontradas mensagens nos aparelhos celulares apreendidos na residência de Suelen Priscila de Oliveira e Gustavo Henrique Elias Santos, evidenciando que Suelen tinha conhecimento e praticava fraudes bancarias”.
O juiz Ricardo Leite frisou que não se comprovou a origem lícita da quantia de R$ 99 mil em espécie apreendida com o casal. “Há diversas lacunas que não foram esclarecidas com a origem do montante de R$ 99 mil encontrados na residência de Gustavo e de Suelen”.
O magistrado ainda quer saber em ‘que constituiu a participação de Danilo já que surgiram fortes indícios de que tinha total conhecimento da prática delitiva, desconstituindo as suas declarações perante a polícia de que agiu em razão de amizade que tinha com Walter’. “Além disso, o próprio Walter Delgatti declarou sua habilidade em informática, sendo que solto poderá destruir provas”.
QUADRILHA – “Dessa forma, demonstrada a gravidade do delito e a periculosidade dos investigados que possivelmente formam uma organização criminosa para a prática de crimes, é indiscutível que a prisão preventiva deve ser decretada”, escreveu.
Desde junho, Moro é alvo de divulgação de diálogos a ele atribuídos com o procurador, pelo site The Intercept. O site afirmou que recebeu de fonte anônima o material, mas não revelou a origem.
A periculosidade evidenciada pelos custodiados na invasão de aparelhos de diversas autoridades públicas; a utilização de transações em bitcoins, conduta que dificulta o rastreamento de valores movimentados; a impossibilidade de monitoramento real das atividades dos investigados, se colocados em liberdade, além da falta de detalhamento da extensão desta possível organização criminosa, indicam o encarceramento como única forma de estancar qualquer continuidade delitiva ulterior dos investigados.
O hacker disse que chegou ao site via Manuela D’Ávila, ex-deputada (PCdoB/RS), que foi candidata a vice do petista Fernando Haddad na campanha presidencial em 2018.