Pedro do Coutto
O Valor, em sua edição de ontem, publica reportagem de Fábio Traner e Estevão Tealear, revelando um aspecto importante, sobretudo neste momento em que a Comissão Especial da Câmara aprova substitutivo ao projeto do governo sobre a reforma da Previdência. No início de 2019, através do Banco Central, o governo reduziu de 20 para 15% a contribuição social dos bancos sobre o lucro líquido. Em troca, o sistema bancário comprometeu-se a diminuir os juros de suas operações.
Nada feito, pelo contrário. Os bancos aumentaram as taxas na média de 1,9%. Para lembrar meu amigo Nelson Rodrigues cito o título de uma de suas colunas em O Globo: “A Vida Como Ela É”.
DOIS PILARES – A comparação fala por si, porém devemos dizer que a Comissão Especial aprovou o relatório Samuel Moreira retirando do projeto Paulo Guedes dois pilares fundamentais: a capitalização individual e a isenção do INSS para as empresas, que continuam assim recolhendo 20% sobre a folha de salário. O Parlamento libertou os assalariados de terem de recolher seus recursos para assegurar sua aposentadoria. Falta alguém na derrota: o próprio Governo.
Por falar em falta alguém, ontem em sua coluna no Globo, Ancelmo GoIs utilizou a expressão para se referir ao Procurador Renan Saad, cuja prisão foi decretada pelo juiz Marcelo Bretas. O título original é o do livro “Falta Alguém em Nuremberg”, do jornalista David Nasser contra Filinto Muller, temível chefe de polícia no período ditatorial de Vargas, apontado como responsável pelas torturas praticadas nos porões da chefatura na Rua do Resende.
ERRO HISTÓRICO – Nuremberg é a cidade alemã onde funcionou o tribunal que condenou os autores das atrocidades nazistas de 33 a 45, período de Adolf Hitler.
Tenho observado que debatedores de programas de televisão referem-se a Filinto Muller dizendo que sua passagem pela Chefatura de Polícia terminou com a queda de Vargas em 29 de outubro de 1945. Não é fato, Filinto Muller foi demitido por Vargas em abril de 42, ano em que o Brasil declarou guerra ao eixo nazifascista, Alemanha, Itália e Japão.
Aconteceu no episódio chamado Vasco 2 x 0. O presidente da UNE era Hélio de Almeida, mais tarde presidente do Clube de Engenharia e ministro dos Transportes no governo João Goulart. Hélio de Almeida foi a Filinto Muller pedir autorização para a passeata em favor da declaração de guerra. Submarinos alemães haviam torpedeado covardemente 20 navios mercantes brasileiros em águas brasileiras. Filinto negou autorização.
VASCO 2 X 0 – Hélio de Almeida decidiu recorrer ao ministro da Justiça, Francisco Campos, a quem o chefe de polícia era subordinado.
Chegou ao gabinete na Rua México e não encontrou Francisco Campos, que no amanhecer fora demitido por Vargas. Encontrou então o jovem diplomata Vasco Leitão da Cunha, que assumira interinamente. Vasco autorizou prontamente a passeata e comunicou a decisão a Filinto Muller. Este foi direto ao Catete entregar a carta de demissão a Vargas. Getúlio aceitou na hora, uma vez que decidira aliar-se a Inglaterra e Estados Unidos, tornando-se o único governo na América do Sul a declarar guerra a Alemanha, Itália e Japão.
Eis aqui um pedaço da história que o vento levou.