Bruno Góes, Naira Trindade, Natália Portinari e Silvia Amorim
O Globo
Com seu papel no governo esvaziado, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , enfrenta um processo de fritura alimentado pela base política do presidente Jair Bolsonaro. Integrantes do PSL, partido do presidente, avaliam que Onyx fracassou como negociador político e reclamam dele ter empregado seus próprios aliados em cargos nos estados. Parlamentares da legenda ouvidos pelo Globo dizem ainda que o ministro isolou o partido do presidente das esferas de poder.
Onyx perdeu formalmente o comando da articulação política para o general Luiz Eduardo Ramos, que assumirá a Secretaria de Governo. Apesar disso, ele continua nas negociações para a aprovação da reforma da Previdência na Câmara, segundo o próprio presidente da República. Em meio às pressões, a avaliação no Palácio do Planalto é que, pelo menos por ora, Onyx permanece no comando da Casa Civil.
PACTO POLÍTICO – Um dos sinais de desgaste do ministro foi o fracasso do pacto entre os chefes dos Poderes, anunciado por ele há dois meses como saída para os problemas de articulação política do governo. O acordo não prosperou por resistência do Congresso. Nesta quarta-feira, Bolsonaro minimizou a relevância da iniciativa.
— Nós não precisamos de pacto assinado no papel. O pacto que precisamos com o Poder Legislativo é o nosso exemplo de votarmos matérias, apresentarmos proposições que fujam do populismo — disse Bolsonaro, ao lado de Onyx e de Ramos.
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MINISTRO SONHA EM DISPUTAR O GOVERNO GAÚCHO
Gustavo Maia (O Globo)
Na berlinda, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni , nunca escondeu o sonho de governar o Rio Grande do Sul , seu estado natal. Desde o início do governo Jair Bolsonaro , ele dedicou parcela significativa de sua agenda para receber políticos gaúchos de diversas cidades em seu gabinete no Palácio do Planalto, pavimentando o caminho rumo à campanha pelo Palácio Piratini, daqui a três anos.
Quase 20% dos mais de 350 registros de parlamentares, prefeitos e secretários estaduais e municipais são de conterrâneos do ministro, que está licenciado do mandato de deputado federal. A reportagem contabilizou pelo menos 60 encontros com políticos gaúchos, desconsiderando, por exemplo, dirigentes de sindicatos no estado ou o presidente do Internacional.
AUDIÊNCIAS – Ao longo do primeiro semestre, ele recebeu prefeitos 20 vezes na Casa Civil. Metade delas foram de municípios gaúchos, desde Bagé, Passo Fundo e Gramado, de grande porte, até Muitos Capões, que tem pouco mais de 3 mil habitantes. No mesmo período, o ministro teve audiências com sete vereadores no próprio gabinete. Seis deles, todos do DEM, são de cidades do interior do Rio Grande do Sul. Encontros com deputados estaduais seguem a mesma lógica: dez dos 12 são gaúchos.
No estado, as articulações também já começaram. O filho de Onyx, Rodrigo Lorenzoni, assumiu no fim de abril a presidência do diretório estadual do DEM pelos próximos três anos. Sucedeu o pai. Primeiro suplente da chapa PSL – DEM, ele ocupou uma cadeira na Assembleia Legislativa em março. Antes, chefiava a Secretaria de Articulação e Apoio aos Municípios do governo Eduardo Leite (PSDB), que já prometeu não disputar a reeleição.
Em 2017, Onyx colocou o próprio nome à disposição do DEM para disputar o governo. Acabou, porém, desistindo e engajou-se na campanha de Bolsonaro mirando também seu projeto pessoal no futuro. Deputado estadual entre 1995 e 2002 e federal desde 2003, se candidatou à prefeitura de Porto Alegre em 2004 e 2008, sem sucesso.