Por Marcus Prado – Jornalista e escritor
Está faltando na Praia dos Milagres, em Olinda, um obelisco para celebrar a sua importância histórica, por ter sido a escolhida, no início do século passado, pelos vultos mais importantes da ciência e da literatura de Pernambuco: Mário Shenberg, José Leite Lopes, Leopoldo Nachbin, Paulo Ribenboim, Samuel MacDowell. Numa entrevista de página inteira concedida ao saudoso escritor, poeta e jornalista pernambucano Garibaldi Otávio, publicada no famoso caderno literário do Jornal da Tarde (SP), do qual Garibaldi era editor (e Ângelo Castelo Branco, seu colaborador), o físico pernambucano Mário Shenberg disse que foi nas suas caminhadas semanais pelas areias da Praia dos Milagres que surgiram as primeiras ideias que depois seriam ampliadas, no campo da astrofísica, ao desenvolver com G. Gamov (celebrado por suas teorias cosmológicas), o que se tornariam conhecida como Efeito Urca, explicação que postula pela primeira vez a emissão de neutrinos em processos estelares.
E por falar do amor às águas dessa praia olindense, a mesma praia de Gilberto Freyre e seus também celebrados companheiros de geração pernambucana (o último tem sido o sociólogo Clóvis Cavalcanti), a praia de Cecília Burle Marx,(mãe de Burle Marx), de Auta de Souza (amiga de Cecília, na sua temporada recifense) e Anaide Beiriz (no seu exilio olindense), quero lembrar a divina Clarice Lispector. É dela uma das mais belas e comoventes impressões sobre a Praia da Marim dos Caetés. “Nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda.”. Num dos seus contos de doçura e leveza, Banho de Mar, ela abre o coração pleno de lembranças do seu tempo de menina: “A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar? Nunca mais? Nunca mais. Nunca”.
Clarice e a saudade que teria o resto da vida dos seus “pés deitados na areia”, do som do mar, (aquelas conchas que traziam o mar e sua maresia dentro de si), do banho de sol e das caminhadas à beira mar, do sol nascer sem pressa e radiante sobre a crista das espumas salgadas, vindas dos corredores profundos do Oceano. Tudo valia para ver o mar se espreguiçando na Praia dos Milagres. Aquilo é que era a felicidade, diria nos seus escritos. “Nunca mais? Nunca mais. Nunca”.