No folclore político, Golbery explicava a diferença entre “informe” e “informação”. Por Sebastião Nery

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Golbery era uma espécie de Rasputin brasileiro

Sebastião Nery

Para preencher cargos-chave do governo, havia norma de consultar o SNI (Serviço Nacional de Informações), para saber os antecedentes da pessoa. Logo que o governador Paulo Egídio assumiu o ministério (Industria e Comercio, do governo Castelo), Golbery explicou: “A diferença entre um informe e uma informação é a seguinte: o informe é “ouvi dizer”, é para ser verificado, é um primeiro boato. A informação é um fato que está comprovado. Quando você receber uma informação com um visto meu, é para cumprir”.

Um dia recebeu uma informação com o visto do Golbery, dizendo que um alto funcionário do Ministério era um pederasta que mantinha relações com contínuos no gabinete dele. Pedia que o demitisse.

NÃO DEMITIU – Começou a levantar a vida do tal rapaz. Como não constatou nada, não assinou nenhum decreto. Golbery cobrou:

– Ministro, lamento muito mas não constatei aquelas informações.

– Paulo eu não disse a você que uma informação com o meu visto era para ser cumprida?

– O senhor disse, mas acontece que caberia a mim a responsabilidade de exonerá-lo. Não constatei nada. Não cumpri.

– Mas isso é muito grave. Precisa ser cumprido.

– Então ponha outro ministro no meu lugar, porque não vou cumprir.

Na saída de uma outra reunião, Golbery deu-lhe um tapinha nas costas:

– Paulo, você se lembra daquele caso? Você tinha razão. Era um homônimo. Assunto encerrado”.

AUMENTO PROIBIDO – “Castelo tinha assinado um decreto, publicado no Diário Oficial, proibindo o aumento de salário dos procuradores públicos. Leônidas Bório, considerando o IBC (Instituto Brasileiro do Café) uma autarquia, concedeu um aumento aos procuradores do Instituto. O presidente interpelou Bório diretamente:

– O senhor não comunicou ao seu ministro. Como explica isso?

– Sou presidente de uma autarquia e considero que cabe a mim.

– O senhor não está entendendo a política de meu governo. Não está entendendo coisa alguma. Vai ter que revogar isso de qualquer maneira.

O presidente bateu na mesa, ficou transtornado. Foi uma cena muito desagradável.

Bório recuou, foi até o fim do governo como presidente do IBC.

EM LIMOEIRO… – O coronel Chico Heráclio, de Limoeiro, o mais poderoso do Nordeste, jogou tudo em 1950 na campanha de Agamenon Magalhães contra João Cleófas, para governador de Pernambuco. Deu-lhe mais de 70% dos votos de sua região. Depois da eleição, foi ao palácio. Agamenon eufórico:

– Chico, use e abuse de meu governo.

– Muito obrigado, governador. A secretaria da Fazenda e a de Segurança o senhor não dá a ninguém. As outras não valem nada. Só peço para colocar água em Limoeiro e pelos meus amigos, quando for preciso.

Um dia, voltou ao palácio para pedir a Agamenon a aposentadoria de um amigo, juiz com poucos anos de função. Agamenon não podia atender:

– Mas, Chico, isso é muito difícil.

– Se fosse fácil, eu não vinha lhe pedir. Governo existe para fazer as coisas difíceis. As fáceis a gente mesmo faz.

O CARROCEIRO – Zé Pequeno era o líder dos carroceiros de João Pessoa. Comandava desfiles de carroças em homenagem ao interventor Argemiro Figueiredo e ao prefeito Fernando Nóbrega, na ditadura de Getulio Vargas.

De repente, Argemiro caiu, Nóbrega também. Zé Pequeno guardou sua carroça, plantou-se dentro de casa. Um dia, dois, ninguém o viu mais. No terceiro dia, engraxou os sapatos, vestiu a roupa de domingo, pôs a gravata e passou pela casa de Fernando Nóbrega:

– Chefe, vou ao palácio apoiar o novo interventor, Rui Carneiro.

– Por que tanta pressa, Zé Pequeno?

– Ah, doutor, três dias longe do governo é demais. Se eu ainda fosse um Zé Grande, mas sou apenas o Zé Pequeno…

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