Suspeição de Moro ganhou ares de beatificação. Por Josias de Souza

Gilmar Mendes colocou o Supremo numa enrascada ao surfar o caso das mensagens trocadas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol. O ministro achou que seria uma boa ideia devolver à pauta da Segunda Turma um habeas corpus que guardava na gaveta havia seis meses. Nele, a defesa de Lula pede a suspeição de Moro, a anulação do caso do tríplex e a libertação do presidiário petista. Inicialmente marcado para esta terça-feira, o julgamento subiu no telhado.
Não é preciso que um hacker invada o celular de Gilmar para saber o que o ministro pensa sobre a Lava Jato. Diante das lentes da TV Justiça, Gilmar já se referiu aos procuradores de Curitiba como “gentalha”, “gente desqualificada”, “despreparada”, “covarde”, “gângsteres”, “cretinos” e “infelizes”. Acusou-os de integrar “máfias, organizações criminosas.” Disse que “força-tarefa é sinônimo de patifaria.”
Foi movido por esses conceitos que Gilmar enxergou nas mensagens que expuseram a cumplicidade entre Moro e Dallagnol uma oportunidade a ser aproveitada. Apressou-se em dizer que provas obtidas de forma ilícita podem ser usadas em benefício de condenados injustamente. O diabo é que Moro e os procuradores inocularam nas tais provas o vírus da dúvida. As mensagens podem ter sido adulteradas, eles alegam.
É contra esse pano de fundo que Lula gostaria de arrancar do Supremo a anulação da sentença do tríplex. Deseja-se enterrar o elevador, a cozinha de luxo, a sauna e outros confortos que a OAS instalou no apartamento do Guarujá. Pede-se que sejam ignorados também o TRF-4 e o STJ. Tudo isso a cinco dias de uma manifestação de rua em defesa da Lava Jato. De repente, o que parecia oportunidade para desbancar um ex-juiz, ganhou a aparência de um processo de beatificação de Sergio Moro.

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