Japão sofre com a escassez de mão de obra

HÁ VAGAS

A escassez de uma mão de obra menos qualificada, como motoristas, operários de construção civil, balconistas e cuidadores, se intensificou no país

Japão sofre com a escassez de mão de obra
Apesar da crise no mercado de trabalho, o aumento dos salários e dos preços permanece quase inalterado (Foto: U.S. Air Force)

No momento em que a crise da escassez de mão de obra no Japão eliminou os planos de expandir sua empresa de transporte de mercadorias por caminhões, Eiji Shimizu decidiu adotar um novo modelo de negócios.

“Meus funcionários, preocupados, disseram que não conseguiriam cumprir as metas previstas no cronograma de trabalho, com os motoristas disponíveis. Mas por que não contratamos novos caminhoneiros? Por que não têm candidatos interessados, responderam”, disse Shimizu.

Em Saitama, ao norte de Tóquio, os caminhoneiros têm, em média, 47 anos e poucos jovens se interessam em substituir o número crescente de aposentados.

Esse impasse levou Shimizu a refletir sobre o foco de seu negócio. A sobrevivência e o sucesso de sua empresa dependiam de uma mão de obra bem remunerada e satisfeita com as condições de trabalho.

Em razão do sexto ano consecutivo de crescimento econômico incentivado pela política de flexibilização monetária, do estímulo fiscal e de reformas estruturais do governo do primeiro-ministro Shinzo Abe, a escassez de uma mão de obra menos qualificada, como motoristas, operários de construção civil, balconistas e cuidadores se intensificou.

A política econômica do primeiro-ministro Abe, apelidada de “Abenomics”, resultou na equivalência de 100% entre os ativos financeiros do Banco do Japão (BoJ) e a produção econômica do país, em uma desvalorização do iene e em uma queda na taxa de desemprego de 2,5%.

No entanto, apesar da crise no mercado de trabalho, o aumento dos salários e dos preços, essencial para que o Banco do Japão atinja a meta de inflação de 2%, permanece quase inalterado.

Os preços caíram 0,9 % em relação ao mesmo período em 2018, segundo dados de um relatório do Ministério da Saúde divulgado em 10 de maio. “Após duas décadas de deflação, as empresas japonesas estão reduzindo as novas ofertas de emprego, até mesmo em empresas que precisam de uma grande quantidade de funcionários para produzir bens ou serviços”, disse Kiichi Murashima, economista-chefe do Citi em Tóquio.

Um jornalista interessado em fazer uma matéria sobre a rotina de trabalho de um caminhoneiro acompanhou um funcionário de Shimizu, Teruyuki Hatada, em uma de suas tarefas. Hatada manobrou com cuidado o caminhão por uma estrada estreita com um tráfico pesado. Apesar do sistema informatizado de logística, os motoristas têm de ficar atentos a todas as etapas do trajeto. Ao chegar ao depósito de um supermercado, Hatada colocou as caixas de óleo de cozinha e de bebidas alcoólicas em uma esteira rolante, sem ajuda de ninguém. O trabalho exige força física e resistência. Esse fato explica, em grande parte, a dificuldade em preencher as vagas de trabalho para caminhoneiros.

“A política econômica do governo não mudou muito minha vida. Alguns amigos trocaram de emprego atraídos por melhores salários. Mas trabalho há quase dez anos na empresa do Sr. Shimizu, gosto do que faço, não tenho interesse em mudar”, observou Hatada.

Shimizu gostaria de pagar melhores salários aos seus funcionários, porém isso significaria cobrar mais dos clientes. “Estou negociando aumentos de preços desde o ano passado. Cerca de metade dos meus clientes concorda com a proposta. Há dois anos, essa seria uma negociação impossível.”

Os supermercados, por sua vez, estão investindo na informatização para tornar a logística mais eficiente. A redução do horário de funcionamento nos feriados também é uma medida para aumentar a margem de lucros.

Marcel Thieliant, responsável pela cobertura da área econômica do Japão no escritório da empresa de pesquisa Capital Economics, em Cingapura, prevê uma desaceleração dos salários e da oferta de empregos por causa do crescimento lento da economia mundial.

No entanto, apesar de um contexto econômico complexo, Shimizu encontrou uma forma de expandir sua empresa concentrando-se em seu recurso mais valioso: sua equipe de trabalho. Ele transformou uma das páginas de seu site em uma plataforma de anúncios de empregos, contratou caminhoneiros do sexo feminino, e criou uma série de tarefas que exigem menos esforço físico, como apanhar mercadorias em depósitos, para pessoas mais velhas. O número anual de candidatos a empregos duplicou.

Fonte:
Financial Times-Japanese employers struggle to fill jobs

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