O presidente decidiu comentar sobre a relação dele com o vice
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“Vice-presidente, general Mourão, amigo dos momentos difíceis. Juntos cumpriremos essa missão”, disse o presidente, na saudação inicial da cerimônia de lançamento de selo e medalha em comemoração aos 130 anos do Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Mourão tem sido alvo da ala mais ideológica da base de Bolsonaro, que inclui o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). O presidente também vem se aproximando cada vez mais do deputado Marcos Feliciano (PSC-SP), que pediu o impeachment de Mourão dias atrás.
Os críticos do vice consideram que ele tem buscado distanciar sua imagem do presidente, a fim de se viabilizar como sucessor de Bolsonaro ou mesmo alimentar a derrubada do chefe do Executivo federal.
A modulação do discurso do general Mourão, de teor radical quando estava na ativa no Exército, polêmico na campanha e moderado na Vice-Presidência, é resultado de um misto de orientação e instinto.
Auxiliares que trabalharam na eleição, na transição e no governo dizem que Mourão é convicto de suas opiniões, mas, antes disso, sensível para perceber o vento e ágil para se adequar a novos tempos.
Não se trata apenas de opiniões sobre aborto (que seja decisão da mulher) ou Venezuela (contra intervenção militar). Há por trás de seus contrapontos ou divergências em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) recados e objetivos políticos.
A postura do vice causou ira na ala do governo ligada ao escritor Olavo de Carvalho, que vê nela interesse em derrubar o presidente.
Mourão sempre disse que não queria ser um vice decorativo. Sugeriu ter uma função de coordenador de ministérios, mas não foi atendido. O seu partido, PRTB, se frustrou por ter só dez cargos no governo.
Mas a atitude de independência não se deve só a objetivos políticos específicos. Mourão passou por intensivão de treinamento de mídia.
Na campanha, declarações causaram polêmicas, e começou o enquadramento.
RELAÇÃO FAMILIAR
Bolsonaro conheceu Olavo de Carvalho a partir de seus filhos, que são admiradores do escritor. Em março, durante a viagem presidencial aos EUA, Bolsonaro, Eduardo e Olavo estiveram em um jantar na residência oficial do embaixador do Brasil em Washington.
INDICAÇÕES PARA O GOVERNO
Apontado como guru de Bolsonaro, Olavo foi responsável pela indicação de dois ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Vélez Rodríguez, demitido do MEC no início do mês.
CONFLITOS COM MILITARES
Olavo tem feito críticas públicas à atuação dos militares no governo Bolsonaro, o que inclui o vice-presidente, Hamilton Mourão, e já pediu a seus ex-alunos que deixem o governo. A disputa entre olavistas e membros das Forças Armadas chegou a travar as atividades do MEC e culminou na demissão de Vélez.
VÍDEO APAGADO
Em abril, um vídeo em que Olavo criticava os militares foi postado no canal oficial de Bolsonaro no YouTube, mas a publicação foi apagada. Um dia depois, Mourão disse que Olavo deveria se limitar à “função de astrólogo”, e Bolsonaro afirmou que as críticas do escritor não contribuem com o governo.