Em vários pontos da capital norte-americana foram dados exemplares com informação enganosa sobre o presidente
Por Antonia Laborde
Washington – O dia 16 de janeiro de 2019 aparecerá nos registros históricos das fake news. A capital dos Estados Unidos amanheceu na quarta-feira com dezenas de distribuidores de edições falsas do The Washington Post e um site que também imitava o do jornal. “Sem presidência”, dizia a manchete da notícia falsa, com a mesma tipografia do Post. O subtítulo explicava que Donald Trump tinha deixado a Casa Branca rapidamente, o que permitiu “acabar com a crise”. A cópia, datada de 1 de maio de 2019, informava falsamente que o republicano tinha abandonado o cargo deixando uma mensagem em um guardanapo e depois partira em viagem para Ialta, na Crimeia.
Diante da Casa Branca, na estação ferroviária da cidade e nos arredores do Capitólio, entre outros locais emblemáticos da capital dos Estados Unidos, foram distribuídos os primeiros exemplares falsos de um dos mais antigos e respeitados jornais do mundo. “Eu estava lendo a notícia e, como estive fora, em férias, me perguntava se tinha perdido algo. O que via não correspondia com o que sei, mas estava tão bem feito… e eu retornava ao cabeçalho em que estava escrito The Washington Post, até que me dei conta de que era falso”, diz Carmen del Río, que recebeu um dos exemplares perto do Departamento do Tesouro. A pista que lhe permitiu perceber o engano foi o slogan do jornal, A democracia morre na escuridão, que tinha sido substituído por A democracia desperta em ação.
Quando usuários do Twitter começaram a postar fotos da capa se perguntando do que se tratava, o Post tuitou que tanto os jornais que estavam sendo distribuídos no centro da capital como o website que tentava imitá-lo não eram seus produtos: “Estamos investigando isso”, escreveu Ian Kullgreen, repórter político, que postou a foto do jornal falso com uma mensagem em que dizia ter tentado –sem sucesso– explicar à distribuidora o problema que estava sendo criado.
Ao meio-dia as cópias estavam se acumulando nas lixeiras das ruas e o grupo de esquerda, Yes Men –que normalmente faz piadas em sinal de protesto– se atribuía a fraude. Em 2008, esse mesmo grupo imprimiu mais de um milhão de cópias falsas de The New York Times anunciando o fim da guerra no Iraque. Onnesha Roychoudhuri e L.A. Kauffman, os autores da ação nesta quarta-feira, argumentaram em um comunicado que a intenção era fazer as pessoas verem que “a história contada pelo artigo é mais razoável do que a nossa realidade atual”.
“Fomos muito cuidadosos ao colocar uma data futura e enquadrá-lo, essencialmente, como ficção especulativa”, disse Kauffman à rádio NPR, embora admita que os leitores possam ter se confundido, dada as semelhanças com a edição verdadeira do Post. “Sinceramente, espero que as pessoas tenham um momento de alegria antes de se darem conta de que é um sonho projetado para o futuro”, acrescentou.
Os textos falsos diziam que Trump se sentira forçado a renunciar sob a pressão de protestos multirraciais liderados por mulheres em todo o país. “Já estamos vendo níveis sem precedentes de protesto e resistência. Agora só temos de nos perguntar: o que vem a seguir?.” Neste sábado está prevista a marcha anual das mulheres no país.
El País