Dimitrius Dantas
O Globo
O carro na garagem e o medidor de eletricidade indicando gasto de energia são sinais de que o morador da casa simples e recém-reformada no bairro de Carijo, no litoral paulista de Cananéia , frequentou o endereço nas últimas semanas. Considerado foragido pela Justiça brasileira desde que o ministro do STF Luiz Fux determinou nesta quinta-feira sua prisão, o italiano Cesare Battisti não tem sido visto na pequena cidade que registra pouco movimento nas ruas. A última vez que o ex-ativista circulou por ali foi no dia da eleição presidencial em segundo turno, 28 de outubro. Battisti acompanhou a apuração numa pequena TV instalada numa lanchonete simples do município.
— Esse foi o último dia que ele apareceu aqui. Vinha todo dia, tomava cerveja e lia o jornal. Ele acompanhou a apuração da vitória do (presidente eleito Jair) Bolsonaro com certa preocupação — conta Miguel Rangel, dono do estabelecimento.
ESTARIA NO RIO – Alguns vizinhos de Cesare Battisti não o veem na cidade desde o último feriado de Finados, poucos dias depois da eleição. O delegado da Polícia Civil, Tedi Wilson de Andrade, trabalha com a informação de que ele foi visto no município na última terça-feira. Mas há também quem garanta que Battisti está no Rio de Janeiro desde a semana passada para finalizar os detalhes de um livro de ficção que tem como cenário a própria Cananéia, onde pela segunda vez ele fixa residência desde que saiu da cadeia, em 2011.
Battisti é conhecido na cidade. Qualquer estranho que pergunte o endereço de sua casa, todos sabem dar as coordenadas. Nos primeiros anos na cidade, Battisti viveu na casa de um amigo, o sindicalista Magno de Carvalho, funcionário da Universidade de São Paulo e um dos integrantes do que chamou de comitê de apoio ao italiano.
FORTE AMIZADE – Os dois se conheceram durante o tempo de Battisti na prisão, por meio do Comitê de Solidariedade ao italiano. Após visitas na penitenciária da Papuda, os dois se tornaram amigos. Após ser colocado em liberdade, ofereceu sua casa em Cananéia.
— Ele ficou um ano e meio na minha casa e, bem recentemente, a casa dele ficou pronta. É um dos melhores amigos que eu tenho — disse ele, para quem uma eventual decisão por extraditar o italiano “é como mandá-lo para a morte”.
A convivência dos moradores de Cananéia com o homem considerado terrorista na Itália pouco passa do “bom dia, boa tarde e boa noite”, além de um comentário aqui outro ali sobre a temperatura na cidade.
MORA SOZINHO – Segundo moradores, Battisti se casou em uma chácara na cidade, mas mora sozinho. “Todo dia passa gente perguntando dele. Ontem passou um carro branco, mas sem identificação de reportagem. Era um carro particular. Olha, passa, pergunta se ele não está em casa. Sempre gente diferente” — diz Maria Helena David, de 62 anos, vizinha de Battisti.
Dona Maria Helena é uma das que diz que não o vê desde o feriado de Finados. O delegado da Polícia Civil tenta auxiliar a Polícia Federal em determinar onde o italiano pode estar. Nas últimas horas, vem tentando cruzar informações que recebeu.
— São muitas informações desencontradas. Chega uma informação, vamos atrás. Chega outra, vamos de novo — diz o delegado, que na tarde desta quinta-feira deu por encerrada as buscas e só as retomará quando tiver mais informações sobre um possível paradeiro do ex-ativista.
FUX MUDOU – O advogado de Cesare Battisti, Igor Tamasauskas, não dá pistas sobre o paradeiro de seu cliente. Para ele, o pedido de prisão foi surpreendente já que o ministro Fux, segundo ele, mudou de posição sobre o caso. Para Tamasauskas, o ideal seria que a decisão fosse tomada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, e não monocraticamente.
— (Se entregar) é uma decisão pessoal do Cesare agora, não do advogado. Ele tem um tempo para refletir o que ele vai fazer mas eu não sei o que ele vai fazer — afirmou.