Cleide Carvalho
O Globo
A juíza substituta Gabriela Hardt , que assumirá a 13ª Vara Federal de Curitiba , até que seja indicado o juiz titular, já foi corregedora do presídio federal de Catanduvas (PR), que reúne alguns dos principais chefes do crime organizado no país. É considerada “linha dura” pelo colegas do Judiciário. Nas redes sociais, defende o feminismo, assim como revela uma de seus hobbies preferidos: maratona aquática.
A partir de segunda-feira, ela retorna de férias e conduzirá as audiências e interrogatórios do processo que envolve o sítio de Atibaia – o interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está marcado para o próximo dia 14.
É DE CURITIBA – Gabriela se tornou juíza aos 34 anos, depois de uma carreira de cerca de nove anos como assistente jurídica na Justiça Federal do Paraná. Hoje tem 42 anos. Nasceu em Curitiba, mas foi registrada em São Mateus do Sul, a 155 quilômetros da capital. O pai dela, um engenheiro químico, trabalhou na Petrobras por mais de 20 anos. Antes de optar pelo Direito, cursou Engenharia Química por dois anos, mas desistiu de seguir a mesma carreira do pai.
Gabriela prestou concurso em 2007 e foi designada em 2009 para a Justiça Federal de Paranaguá. Um ano antes, tinha passado também num concurso para o Ministério Público Federal, mas optou por seguir o caminho da magistratura mesmo.
Em 2010, a juíza substituta foi transferida para Umuarama. Já casada e mãe de duas filhas, teve que separar a família – o marido ficou em Curitiba com uma das crianças e ela foi para Paranaguá e Umuarama, com a outra. Em 2014, mesmo ano que começou a Lava-Jato, voltou para Curitiba, na função de juíza substituta na 13ª Vara.
SUBSTITUTA – A juíza substituiu Moro pela primeira vez em janeiro de 2015, quando determinou a quebra de sigilo bancário e fiscal da JD Consultoria, empresa do ex-ministro José Dirceu. A medida identificou pagamentos feitos ao ex-ministro pelas empreiteiras UTC, Galvão Engenharia e OAS.
Na condição de substituta, ficou ainda responsável por todos os processos da 13ª Vara que não eram referentes à Lava-Jato. Em maio passado, mandou prender o ex-ministro José Dirceu, após condenação em segunda instância – decisão depois revertida pelo Supremo Tribunal Federal.
Mas Gabriela também já foi favorável a um petista: reduziu de R$ 1 milhão para R$ 200 mil a fiança do ex-tesoureiro do partido, Paulo Ferreira, e argumentou que estava claro que ele não tinha condições de pagar. Ferreira chegou a oferecer um Citroen C4 como parte do pagamento.
DECISÃO REVISTA – Em maio passado, a juíza também teve uma decisão parcialmente revista. Ela deu autorização para a defesa do operador Rodrigo Tacla Duran, foragido no exterior, tivesse acesso aos documentos do pedido de cooperação internacional no Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça e Cidadania). Cinco dias depois, Moro retomou o processo e reviu a decisão: determinou que, para obter qualquer documento, os advogados do investigado deveriam pedir diretamente a ele.
Em julho passado, Moro estava em férias e Gabriela estava à frente da 13ª Vara quando o desembargador Rogério Favreto, do TRF-4, numa decisão polêmica, mandou soltar Lula com base num habeas corpus pedido por advogados do PT. Ela foi atropelada pela reação rápida de Moro, que interferiu no processo e conseguiu impedir que a Polícia Federal cumprisse a decisão do desembargador. Num evento em São Paulo, Moro ironizou o episódio e afirmou que juízes são criticados por terem férias longas e, quando trabalha durante as férias, também recebe críticas.
ESCOLTA E SEGURANÇA – No tempo em que decidia o destino da execução de criminosos, entre 2003 e 2004, Gabriela chegou a andar permanentemente com carro blindado e escolta.
A natação, além de ser seu esporte – que a faz ter músculos definidos e braços torneados – é também sua “terapia”, como já confessou nas redes sociais. “Meu esporte, minha terapia, que ainda por cima me fez conhecer pessoas incríveis e grandes amizades!”, publicou certa vez.
Gabriela poderá sentenciar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo que envolve a compra de um prédio pelo Instituto Lula – o prazo de alegações finais da defesa se encerra nesta quinta e o documento já foi apresentado. Mas como não há prazo para que um juiz julgue um processo, ela poderá deixar a tarefa ao futuro sucessor de Moro, que será escolhido entre o juiz mais antigo da região Sul do país que se dispuser a concorrer à vaga. No total, são 223 juízes federais titulares na base do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.