Jussara Soares
O Globo
A dez dias do segundo turno e já oficializado como futuro ministro-chefe da Casa Civil de um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL), o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) defende uma drástica redução de cargos de confiança e em comissão, como uma das medidas prioritárias para desinchar o Estado. O parlamentar gaúcho, que se projetou como articulador político do capitão da reserva do Exército, propõe extinguir 25 mil deles logo no primeiro dia de governo.
O número, no entanto, é superior aos atuais 23.070 cargos comissionados do Poder Executivo, segundo dados do Ministério do Planejamento relativos ao mês de agosto.
CARGOS DEMAIS — “Hoje são quase 30 mil cargos em comissão. Eu propus que sejam extintos 25 mil no primeiro dia, assim como todo e qualquer privilégio, cartão corporativo, acabar tudo — disse Lorenzoni, em entrevista ontem ao Globo, baseando-se em um número total de comissionados maior do que o informado pelo governo.
Onyx não detalhou como fazer o corte sem paralisar a maquina pública. Os atuais 23.070 cargos comissionados incluem DAS (Direção e Assessoramento Superior) e também FCPE (Funções Comissionadas do Poder Executivo), que só podem ser exercidos por servidores concursados. Em 2017, o governo fez uma reforma administrativa na qual foram extintos 4.184 cargos comissionados, o que gerou uma economia de R$ 193,5 milhões para os cofres públicos.
PACOTE – Segundo o ministeriável, a proposta faz parte de um pacote a ser adotado em um possível governo Bolsonaro para aplicar o que eles têm chamado do “plano de governo conceitual”, sem propostas concretas, mas com linhas gerais que devem nortear o Executivo.
— Ele vai ser o presidente diferente e vai governar pelo exemplo. Ele é o primeiro que vai reduzir o seu próprio poder, dar espaço para a sociedade brasileira avançar. O plano de governo dele é conceitual — disse o parlamentar na casa do empresário Paulo Marinho, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, ponto de encontro da cúpula da campanha de Bolsonaro.
APOIAR MAIA? – Embora diga que só começará atuar após a eleição, Lorenzoni já atua nos bastidores para construir a base do governo Bolsonaro no Congresso. Oficialmente, recusa-se a responder se apoiará o colega de legenda Rodrigo Maia para se manter na Presidência da Câmara, como vem sendo defendido por partidos do chamado Centrão. Aliás, o articulador político de Bolsonaro promete negociar com todas as legendas menos as de esquerda.
Apesar de ter admitido ter recebido R$ 100 mil de propina da JBS para a campanha, no ano passado, Lorenzoni afirma que o governo colocará em prática as dez medidas contra a corrupção e reforçará a atuação do Ministério Público e do Judiciário . No braço direito, diz ter tatuado o versículo bíblico que se tornou slogans de Bolsonaro: “E conhecereis a verdade e a verdade vós libertará”. Segundo ele, não se trata de marketing, mas uma coincidência:
— Entre carregar uma mancha e ter uma cicatriz, eu escolhi ter uma cicatriz. Eu errei como qualquer ser humano, pedi desculpa para os eleitores, tatuei para nunca no mais me comprometer.