Por Clarissa Pains
Paula Pfeifer Moreira tomou um susto quando, numa segunda-feira de agosto, recebeu um e-mail do gigante Facebook informando que ela era uma das cinco pessoas escolhidas, dentre mais de seis mil candidatos de todo o mundo, para ser residente do Facebook Community Leadership Program. Com isso, ela receberá US$ 1 milhão para desenvolver um projeto que cause impacto positivo na comunidade.
Única representante da América Latina entre os residentes selecionados, Paula montará o projeto até o fim deste ano e começará a implementá-lo em janeiro de 2019. Paula tem surdez severa desde os 16 anos de idade e, hoje, aos 37, é usuária de implante coclear, aparelho que a fez se tornar uma “surda que ouve”, como ela gosta de dizer.
Para disseminar informações sobre como a tecnologia pode colaborar para a vida de quem é surdo, a gaúcha que mora há anos no Rio de Janeiro criou o blog “Crônicas da surdez”, que já rendeu dois livros. Não à toa, o projeto que ela pretende desenvolver com o financiamento da empresa americana vai envolver acesso à tecnologia, além de acolhimento a quem é diagnosticado com surdez e encontros off-line nas maiores cidades do Brasil.
— O objetivo é tirar os surdos que ouvem da invisibilidade, já que a maioria das pessoas não conhece a diversidade que existe na surdez e pensa erroneamente que ela é sinônimo de língua de sinais. Além disso, mostrar que esta não precisa ser uma jornada solitária e que existe alternativa ao silêncio — afirma Paula.
Depois de dar palestra ano passado em dois eventos do Facebook — o Summit de Acessibilidade e o Facebook Experiences —, ela ficou sabendo há alguns meses que estavam abertas as inscrições para o programa de liderança. O processo seletivo foi todo sigiloso e, depois de selecionada, ela foi chamada às pressas para uma série de reuniões em Nova York, onde está agora, com os outros escolhidos — de Índia, França, Quênia e Estados Unidos. Além dos cinco, outros 100 líderes foram escolhidos como “fellows” e terão seus projetos financiados em US$ 50 mil.
— Fiquei morrendo de orgulho, afinal estou há oito anos tentando desmistificar a surdez e ajudando as pessoas a entenderem todos os benefícios da tecnologia e da reabilitação para quem tem deficiência auditiva — destaca Paula. — Saber que os gigantes do Vale do Silício agora estão prestando atenção a isso é algo que um dia ousei sonhar, mas jamais pensei que viraria de fato realidade.