Educação 360: economista e educador falam sobre como reverter a crise de aprendizagem no país

Entre os assuntos abordados por David Evans, do Banco Mundial, e Cesar Callegari, do Conselho Nacional de Educação, estavam salários, Base Curricular e gestão eficiente

David Evans, o mediador Antônio Gois e Cesar Callegari, na abertura do Educação 360 – Adriana Lorete / O Globo

POR PAULA FERREIRA

Em fevereiro deste ano, um relatório do Banco Mundial revelou que o Brasil vai demorar cerca de 260 anos para atingir o nível de leitura de países desenvolvidos. O dado chocou a comunidade educacional brasileira, mas o que nos levou a esse cenário? Durante a mesa “Promessas da Educação”, a primeira a acontecer no evento internacional Educação 360, David Evans, economista do Banco Mundial, afirmou que é possível reverter esse quadro. O caminho é o investimento em eixos centrais como formação de professores, qualificação de gestores e na utilização eficaz dos resultados apresentados em avaliações como ponto de partida para traçar novas políticas.

O Educação 360 é promovido pelos jornais O GLOBO e Extra com patrocínio de Sesi, Fundação Telefônica, Fundação Itaú Social, Instituto Unibanco e Colégio pH, apoio de Fundação Cesgranrio, e apoio institucional de TV Globo, Canal Futura, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Unesco, Unicef e Todos pela Educação

— Simplesmente estar na escola não se traduz em aprendizagem. No Brasil, a criança fica em média dez anos na escola. Cingapura, por exemplo, tem os melhores resultados em matemática. Lá, em seis anos, uma criança aprende o que teria em dez aqui no Brasil. Estamos perdendo anos de aprendizagem por não termos o sistema educativo que precisamos para os jovens — disse Evans.

O relatório produzido pelo Banco Mundial levou em consideração dados do desempenho dos estudantes brasileiros no Pisa, teste aplicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) para estudantes de 15 anos. Para Evans, há um longo caminho para reverter o quadro, mas ele pode ser abreviado com mudanças estruturais:

— Há quatro elementos-chave no sistema educativo: as crianças, os docentes, os insumos e a gestão — diz ele, acrescentando: — É preciso construir coalizões para implementar as mudanças em escala. Talvez a parte mais difícil para melhorar aprendizagem seja o elemento político. Melhorar a aprendizagem não é algo que o Ministério da Educação pode fazer sozinho, ele precisa de toda sociedade.

Aumentar salários não pode ser medida isolada

O economista explica que é preciso investir nos salários dos professores, mas essa medida não pode ser isolada. É necessário incrementar também a formação desses docentes e acompanhar seu trabalho pedagógico, utilizando os resultados nas avaliações em larga escala para pensar o modelo ensinado em sala. Evans citou ainda a necessidade de qualificar gestores, a exemplo do que acontece no município de Sobral, onde os diretores das escolas são escolhidos a partir de critérios técnicos e não por indicação política.

Membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), o educador Cesar Callegari destacou que o Brasil tem grandes problemas em etapas cruciais da escolarização:

— Vivemos essa crise de aprendizagem no Brasil, e os números são dramáticos. Mesmo na alfabetização, que é uma pedra angular do sistema educacional. O Brasil se aproxima da universalização do ensino fundamental, mas falha redondamente na missão de que a criança seja alfabetizada no momento adequado. No Rio, 41% dos alunos que chegam ao final do terceiro ano não estão alfabetizados.

Além do financiamento da educação básica e das melhorias estruturais citadas por Evans, Callegari ressaltou a importância da implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que vai nortear os currículos de todo o país, no processo:

— A BNCC tem que ser implementada. Para isso, ela não pode ser considerada um currículo único, mas sim uma grande cesta de possibilidades para que professores e escolas criem e desenvolvam seus próprios caminhos.

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