Paulo Guedes não é chegado ao contraditório. O guru de Jair Bolsonaro tem fugido dos debates com economistas das outras campanhas. Só na segunda-feira, escapuliu de dois. Um deles no Roda Viva, com transmissão ao vivo na TV.
“Faltou combustível no posto Ipiranga”, ironizou Persio Arida, um dos pais do Plano Real. O economista do PSDB classificou a plataforma de Guedes como “ilusionista” e “inconsistente”. Na véspera, já tinha dito que o bolsonarista é “mitômano” e “nunca escreveu um artigo acadêmico de relevo”.
O guru do capitão evita os rivais, mas parece à vontade com banqueiros e investidores. Na terça, ele confidenciou à turma que pretende recriar um imposto sobre transações financeiras, nos moldes da extinta CPMF. A declaração foi revelada pela “Folha de S.Paulo” e abriu uma crise na campanha.
Do hospital, Bolsonaro ligou para reclamar do plano. Depois usou as redes sociais para desautorizar seu ideólogo. “Chega de impostos é o nosso lema”, tuitou. Foi sua primeira divergência pública com o economista, com quem ele diz ter um “casamento hétero”.
É uma relação de interesses. Guedes, um economista ultraliberal, sonhava ditar os rumos do governo. Foi seduzido com a promessa de um superministério, que uniria as pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior.
Bolsonaro, um militar que admite não saber o básico sobre economia, precisava de um fiador com o mercado. Ao encontrá-lo, passou a se apresentar como defensor do Estado mínimo e das privatizações. Foi o suficiente para atrair uma fatia do empresariado que andava desiludida com o PSDB.
O problema é que o novo discurso não casa com o velho personagem. Em 28 anos no Congresso, o presidenciável sempre seguiu a linha estatizante. Votou contra o fim do monopólio das telecomunicações, combateu as tentativas de reforma da Previdência e defendeu privilégios para os militares.
O episódio de ontem mostrou que o Adam Smith do bolsonarismo pode ser abandonado no altar.