Indústria é impulsionada por liberação em 30 estados para uso medicinal e, em nove, de forma recreativa
Se não houver filas — algo raro —, um consumidor consegue comprar um cigarro de maconha para uso recreativo em Las Vegas, Nevada, nos Estados Unidos, em cerca de três minutos. Basta provar ser maior de 21 anos e ter US$ 9 (cerca de R$ 37). O mais difícil talvez seja escolher entre tantas opções: há grande variedade tanto do tipo da planta (sativa, indica ou híbridos) como de graduação de THC. Nas lojas do ramo, também é possível, inclusive para turistas, comprar a erva em comestíveis, como cookies e bolos. Os locais vendem ainda, geralmente em uma sala separada, produtos de marijuana para fins médicos. O comércio, que antes causava estranhamento em muitos americanos e estrangeiros, agora é cada vez mais comum pelo país. E lucrativo.
Quatro anos após a legalização da maconha para todos os fins no pioneiro Colorado e 22 anos após o uso medicinal ser permitido na Califórnia, a erva está presente em 30 estados para uso médico e em nove e no Distrito de Colúmbia (onde fica a capital Washington) de forma recreativa. Com isso, a cannabis já movimenta de US$ 8 bilhões (R$ 32,8 bilhões) a US$ 10 bilhões (R$ 41,1 bilhões) por ano no país, além de empregar cem mil pessoas.
— O mercado cresceu 60% em um ano. Com a previsão de novas legalizações e o fim da insegurança jurídica, além da aprovação de uso medicinal em outros países, esse mercado pode ser de dez a 15 vezes maior em uma década — afirmou Chris Walsh, fundador e vice-presidente do Marijuana Business Daily, conhecido como MJBizDaily’s, o primeiro portal americano de negócios de maconha, que estima faturamento de até US$ 10 bilhões do setor neste ano.
IMPREVISIBILIDADE DE TRUMP
As boas expectativas não surgem apenas da possibilidade de mais dois estados legalizarem a maconha recreativa neste ano — Dakota do Norte e o populoso Michigan —, além de Ohio em 2019, mas da menor resistência dos conservadores à sua legalização. O fato de dois locais tradicionalmente conservadores, Utah e Missouri, tenderem a aprovar o uso medicinal da maconha em novembro, e que os veteranos cada vez mais a usem até para tratar doenças e traumas de guerras é um sinal forte, que em parte encobre a dubiedade do governo Donald Trump sobre o tema.
Na semana passada, o BuzzFeed publicou uma reportagem que apontava que, dentro do governo, havia um esforço secreto contra a maconha. De acordo com o veículo, havia uma determinação sigilosa para dificultar os negócios e divulgar aspectos maléficos da erva. Isso apesar de Trump já ter se manifestado a favor das decisões de cada estado. Mas essa falta de clareza ainda assusta o setor:
— Declarações recentes sugerem que ele estaria disposto a assinar uma lei que permitiria aos estados determinar suas políticas de maconha. No entanto, isso não oferece segurança jurídica. Embora o Departamento de Justiça não tenha reprimido os negócios legais de maconha, ele retém o poder de fazê-lo quando quiser, e os promotores federais não precisam da permissão do presidente para julgar casos contra pessoas ou empresas que violem leis federais de maconha — disse Morgan Fox, diretor de relações com a imprensa da Associação Nacional da Indústria da Maconha (NCIA, na sigla em inglês).
INVESTIMENTO DE GIGANTES
Mas o fato de 64% dos americanos aprovarem a legalização da maconha recreativa anima agentes econômicos. Tom Adams, diretor administrativo de inteligência industrial da BDS Analytics, acredita que a maconha poderá estar nacionalmente legalizada nos EUA em 2021.
— A maconha legalizada reduz a violência de gangues, serve de substituto a drogas pesadas e movimenta a economia — afirma ele, que estima que o setor empregará 500 mil pessoas e terá faturamento de US$ 23,4 bilhões (quase R$ 100 bilhões) em 2022.
Enquanto isso, novos negócios começam a surgir. Já é possível, por exemplo, comprar cereal de maconha — sem THC — na cadeia de supermercados Trader Joe’s. Gigantes de cerveja anunciam a criação de bebidas com a erva. Informações de que a Diageo, que fabrica a Smirnoff e o Johnnie Walker, estava negociando a compra de participações em empresas de maconha, na semana passada, fizeram o mercado correr para esses papéis, causando altas de até 20% em apenas um dia. E, no mundo corporativo dos EUA, já existe a Universidade da Maconha, para dar cursos sobre a planta e consultorias de recrutamento de executivos específicas para o setor.
— Os EUA foram um dos pioneiros a proibir a maconha, nos anos 1930, e está agora na vanguarda da legalização — disse Adams, que estima que o mercado global de maconha legal saltará dos atuais US$ 12,9 bilhões para US$ 32 bilhões em 2022.
OGlobo