Saiba como os golpistas “clonam” o WhatsApp de políticos para ganhar dinheiro

Os investigados responderão por crimes como invasão de dispositivo informático, estelionato e associação criminosa, informa a Polícia Federal. (Foto: Reprodução)

Alguém de confiança pede dinheiro emprestado pelo WhatsApp. Você, solidário, faz o depósito. Só que, tempos depois, descobre que o autor do pedido era um golpista, que conseguiu “clonar” o perfil no aplicativo para se passar pela pessoa conhecida.

Alvo de uma ação da PF (Polícia Federal) em conjunto com a Polícia Civil nesta terça-feira (17) nos Estados do Maranhão e Mato Grosso do Sul, os bandidos por trás do golpe têm entre suas vítimas ministros, deputados estaduais e federais e até uma governadora. Alguns dos atingidos chegaram a depositar R$ 70 mil.

Recentemente, outros políticos e figuras próximas ao poder também foram alvo da mesma situação.

Em março, a PF abriu um inquérito para averiguar uma denúncia de deputados federais e ministros, que vinham percebendo um comportamento estranho de suas contas no WhatsApp. Pessoas próximas a eles haviam recebido mensagens deles com pedidos de dinheiro.

Entre os atingidos pelo golpe estão os ministros Carlos Marun (Secretaria de Governo), Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-ministro Osmar Terra (Desenvolvimento Social) e Gastão Vieira. Além deles, foram atingidos a governadora do Paraná, Cida Borghetti (PP), e pelo menos cinco deputados estaduais, como Adriano Sarney (PV-MA).

Uma das pessoas abordadas pela conta “clonada” de Sarney chegou a depositar R$ 70 mil. Os valores pedidos nem sempre eram tão altos. Outras vítimas chegaram a enviar R$ 8 mil.

Os golpistas pediam que o dinheiro fosse depositado em contas bancárias do Banco do Brasil em São Luís (MA). A maioria delas, abertas em nome de laranjas.

No decorrer da investigação, os policiais descobriram que o golpe não só não era novo como um de seus autores já havia escapado da polícia.

Segundo o delegado Odilardo Muniz, do Departamento de Combate a Crimes Tecnológicos da Superintendência Estadual de Investigações Criminais do Maranhão, o líder da quadrilha é dono de uma lan house. Ele e outras três pessoas cujas identidades foram usadas para a abertura das contas bancárias foram presos nesta terça.

O suspeito costumava aplicar o mesmo tipo de golpe em 2016, mas em grupos de WhatsApp. Chegou até a ser denunciado pelo Ministério Público. Outros comparsas foram presos, mas ele conseguiu fugir.

O golpe
O golpe funcionava assim: A lan house do suspeito recebia chips de celular para vender. Alguns desses cartões eram cancelados junto à operadora de celular. No lugar, eram inseridos nos chips os números dos políticos – os números dos ministros foram obtidos após acessarem um grupo no WhatsApp da Presidência. Os golpistas usavam o número de celular clonado para obter acesso ao perfil da vítima no WhatsApp. Ao inserir um número de celular no WhatsApp, o aplicativo envia um SMS ou faz uma ligação. Como o SMS era enviado para o número clonado pelos golpistas, essa etapa não era problema

Na fase de oitiva da operação, a polícia vai tentar identificar como os golpistas conseguiam fazer os cancelamentos de números junto às operadoras de celular e se contavam com alguém dentro das empresas de telecomunicação.

A polícia não chegou a um número de vítimas do esquema, mas, de acordo com Muniz, de um lote de 120 SIM Cards, 79 foram usados para o golpe. Os investigados responderão por crimes como invasão de dispositivo informático, estelionato e associação criminosa, informa a Polícia Federal.

Pedido de R$ 100 mil

Não é a primeira vez que políticos foram alvo de golpes envolvendo o WhatsApp. Em junho deste ano, em caso sem conexão com o da quadrilha maranhense, o prefeito de Balneário Camboriú (SC), Fabrício Oliveira, teve de entrar na Justiça para reaver o número de celular e a conta no WhatsApp.

Um golpista conseguiu clonar seu telefone, acessar seu perfil no aplicativo e falar com três contatos de Oliveira. Os abordados eram sempre pessoas com quem o prefeito havia conversado fazia pouco tempo. Um deles, um assessor, acabara de mandar um arquivo antes de receber o pedido para transferir dinheiro.

O assistente chegou a perguntar se deveria tirar o dinheiro da conta da prefeitura. Como o valor era alto, de R$ 100 mil, teria de consultar um contador.

Perguntou pelo WhatsApp o que deveria fazer. O golpista então pediu para que o dinheiro fosse transferido a partir da conta particular do prefeito. Como o assessor desconfiou das idas e vindas, não fez a transferência. Nesse meio tempo, um amigo do prefeito transferiu R$ 2,5 mil.

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