LITERATURA – CURTUME – CAIO FERNANDO DE ABREU

CAIO FERNANDO DE ABREU

Curtume

Nenhum poema libertário

libera a tarde do gigantesco inútil

derramado em copos de cinza

sobre as paredes sujas.

Nenhum poema inflamado

desinflamaria o pus da paisagem mutilada

pelas chaminés vomitando fuligem

sem parar.

Nenhum poema possível

possibilita a transmutação do nada

curvado sobre cada uma das máquinas

em toques secos.

Nenhum poema pirado

pararia a voragem estúpida

gerando monstros coloridos

em papel couché.

Nenhum poema solto

soltaria outra vez as pandorgas perdidas.

Preso na gaveta, solto no vento: nenhum poema.

Nem mesmo este

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